Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Enes, Carlos Manuel Pimentel

[N. Vila Nova, ilha Terceira, 10.3.1951] Estudou no Liceu de Angra do Heroísmo, licenciou-se em História na Faculdade de Letras de Lisboa (1979) e fez o mestrado em História dos Séculos XIX e XX na Universidade Nova de Lisboa (1993). Professor do ensino secundário, desde 1978, exerceu também a docência na Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo (1981-1984), onde foi chefe do Departamento de História e Geografia, e na Universidade Aberta, Lisboa, de 1996 a 2003.

Com uma opção de esquerda no panorama político nacional, foi militante do PCP entre 1974 e 1986, havendo na juventude participado, como dirigente, na JEC e na Conferência de S. Vicente de Paulo.

Nos finais dos anos 70 fez parte, em Lisboa, de um grupo de açorianos ferozes críticos das soluções políticas do início do regime autonómico constitucional. Desse grupo faziam parte António Borges *Coutinho, Soares de Melo, José Bettencourt e Victor Ávila. Publicaram, então, um livro Que Futuro Para os Açores?, onde expõem as suas ideias sobre a problemática política, social e económica do arquipélago, muito marcado por uma visão marxista da história e por uma explicação dos movimentos autonomistas como exemplo da luta de classes. Nos anos 80, foi colaborador assíduo do jornal Farol das Ilhas, publicado na capital e continuador dessa oposição ao regime político de autonomia constitucional açoriana.

É autor de uma vasta e muito significativa obra de investigação histórica açoriana, também ela marcada pelas suas opções de esquerda e pela teoria marxista, ainda que cientificamente correcta e já sem as marcas do combate político dos seus escritos anteriores.

Começou por publicar artigos na Revista História e Sociedade, em que aparecem alguns temas, que posteriormente veio a desenvolver. A sua investigação tem-se dirigido a temas de cultura popular, como as Danças de Entrudo, o Carnaval e os temas de história política ligados aos círculos de resistência democrática e popular ao Estado Novo, onde tem utilizado uma fértil investigação, documentação inédita e um método de dialéctica histórica de inspiração marxista.

A sua obra de maior fôlego é um estudo exemplar sobre a Economia Açoriana entre as Duas Guerras Mundiais, em que analisa as actividades mais relevantes para a economia do arquipélago e apresenta uma interpretação global para a compreensão da história social, política e económica de um período tão decisivo e tão desconhecido e onde demonstra um profundo conhecimento das complexas linhas de força da sociedade insular.

Tem, ainda, estudado aspectos relevantes da história das instituições culturais e publicou uma colectânea de textos sobre política administrativa, de Luís da Silva Ribeiro, com um importantíssimo estudo introdutório sobre o regionalismo na primeira metade do século XX.

Colaborou no Dicionário de Educadores Portugueses e é um dos mais destacados da Enciclopédia Açoriana. J. G. Reis Leite

Obras Principais. (S.d.), O Carnaval na Vila Nova. Lisboa, Salamandra. (1978), Que Futuro para os Açores?. Lisboa, Ed. Caminho [em co-autoria]. (1980), As Danças do Entrudo. Lisboa, Ed. Ilhas. (1989), O Carnaval Angrense no primeiro terço do século XX. Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, XLVII: 291-365. (1990), Ponta Delgada: o movimento de contestação à política do Estado Novo em 1932-1933. Ibid., XLVIII: 507-536. (1994), A Economia Açoriana entre as duas Guerras Mundiais. Lisboa, Salamandra. (1996), A Casa dos Açores em Lisboa. Lisboa, Casa dos Açores. (1995), Escritos Político-Administrativos, vol. IV, de Luís da Silva Ribeiro. Angra do Heroísmo, Instituto Histórico da Ilha Terceira [org. e estudo introdutório]. (2001), A Memória Liberal na Ilha Terceira. Lisboa, Salamandra.

 

 

Adenda
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Foi deputado na Assembleia da República pelo Partido Socialista, de 2011 a 2015. Em 2018 foi nomeado pelo então Secretário Regional da Cultura para Membro do Conselho Regional de Cultura. De 1999 a 2018 fez parte dos corpos diretivos da Casa dos Açores em Lisboa.
Foi também colaborador do Dicionário de Educadores Portugueses, Instituto de Inovação Educacional, Lisboa, 2003, comissário da exposição Memórias da Resistência, inaugurada pelo Presidente Jorge Sampaio no dia 10 de junho de 2003 em Angra do Heroísmo, sendo autor do respetivo catálogo, comissário das Exposições Itinerantes A República: Figuras e Factos, e A República: Ideais e Valores, Presidência do Governo dos Açores/DRaC, Centenário da Comemoração da República, 2010 e autor dos respetivos catálogos, no mesmo ano foi ainda comissário da Exposição A Imprensa terceirense na I República, Governo dos Açores/DRaC, Museu de Angra do Heroísmo, 2010 e autor do respetivo catálogo e da exposição A publicidade na imprensa micaelense na I República, Governo dos Açores/DRaC, Biblioteca de Ponta Delgada.
Foi autor do prefácio à 3.ª reedição da Obra de Gervásio Lima, “A Praia há 300 anos”, edição IAC/CMPV, 2017.
Das obras publicadas nos últimos anos destacam-se (2005), Terra do Bravo, romance, Angra do Heroísmo, Instituto Açoriano de Cultura, (2007), Álbum Terceirense, Vol. I, Angra do Heroísmo, BLUedições, (2009), Vila Nova Antiga, (álbum fotográfico), Angra do Heroísmo, BLUedições, (2010), Álbum Terceirense, Vol. II, Angra do Heroísmo, BLUedições, (2011), Vila Nova – pelos caminhos da sua história, Angra do Heroísmo, Agência para o Desenvolvimento da Cultura nos Açores (ADCA), (2011), A Fotografia nos Açores (dos primórdios ao terceiro quartel do século XX), s/l, Presidência do Governo dos Açores/Direção Regional da Cultura., (2012), Álbum Terceirense, Vol. III, Angra do Heroísmo, BLUedições, (2016), Cicatriz da Chuva (poesia), Angra do Heroísmo, Instituto Açoriano de Cultura, (2017), Filomena Serpa (Poesia), recolha, organização e biografia, Angra do Heroísmo, Instituto Açoriano de Cultura, (2018), Álbum Terceirense, vol. IV, Angra do Heroísmo, Instituto Açoriano de Cultura, (2019), Angra do Heroísmo – Alma e Memória, Angra do Heroísmo, Município de Angra do Heroísmo, (2020), A oposição democrática em Ponta Delgada – das eleições de 1969 à cooperativa Sextante, Ponta Delgada, Letras Lavadas Edições e (2020), A violência da FLA quase tomou conta da ilha (a agitação política e social na Terceira, 1974-76), Angra do Heroísmo, Instituto Histórico da Ilha Terceira.
Além de conferencista, é autor de diversos artigos, quer em jornais, quer em outras publicações, destacando-se os seguintes: (2004), “Brianda Pereira: a construção do mito”, Atlântida, vol. XLIX, Angra do Heroísmo, Instituto Açoriano de Cultura, pp. 45-56, (2006), “Oposição à Ditadura Militar e ao Estado Novo nos Açores (1926-1945), Atlântida, Instituto Açoriano de Cultura, vol. LI, Angra do Heroísmo, pp. 169-183, (2007), “Teotónio Bruges: apogeu e declínio da Memória do “Herói”, Actas do colóquio O Liberalismo nos Açores – do Vintismo à Regeneração. O Tempo de Teotónio de Ornelas Bruges (1807-1870), Angra do Heroísmo, Instituto Açoriano de Cultura, pp. 253-262, (2007), “Francisco de Ornelas: um herói promovido pelo Estado Novo”, Actas do Colóquio Comemorativo dos 400 anos do seu nascimento, realizado na Praia da Vitória a 28 de Outubro de 2006, Angra do Heroísmo, Instituto Açoriano de Cultura/Câmara Municipal da Praia da Vitória, pp. 67-79, (2009), “Ponta Delgada, 1969: uma revolução silenciosa”, in A oposição ao salazarismo em São Miguel e em outras ilhas açorianas (1950-74), organização de Mário Mesquita, Lisboa, Tinta da China Edições, pp. 69-76, (2010), “O Porto da Praia da Vitória, Açores: uma porta aberta ao futuro”, Revista Portus, nº 20, RETE – Associazione per la collaborazione tra porti e cittá, Venezia, pp. 74-77, (2016), “Base das Lajes: uma pedra no sapato da PIDE”, Revista Atlântida, vol. LXI, Instituto Açoriano de Cultura, Angra do Heroísmo, pp. 265-277 e (2021), “Notas sobre o separatismo na Terceira”, in A Liberdade por princípio, estudos e testemunhos em homenagem a Mário Mesquita, Lisboa, Tinta da China, pp. 577-594. Ranu Costa (2022)