[N. S. Sebastião, ilha Terceira, 21.1.1796 ? m. ibid., 11.9.1858] Historiador e organista. Pertencia a uma família notável da sua vila natal e foi educado por professores seus parentes nas primeiras letras e no latim. Tornou-se músico, organista, de profissão, tendo aprendido essa arte também em S. Sebastião e no Convento dos Franciscanos em Angra. Começou a sua vida profissional como organista na Matriz da Praia, aos 15 anos, onde se manteve por longos anos e onde foi também organeiro.
Desde cedo abraçou as ideias liberais, sendo por isso perseguido e obrigado ao exílio em 1823. Foi secretário da Câmara de S. Sebastião nas primeiras eleições liberais, em 1822, e posteriormente, chegando mesmo a presidir à Câmara, entre 1836 e 1839. Foi procurador à Junta Geral do Distrito e provedor da Misericórdia da sua vila. Foi acérrimo defensor do concelho de S. Sebastião, lutando contra a sua extinção em 1855.
Fica, porém, na cultura açoriana como historiador, o maior da sua geração e um dos melhores de sempre. A sua historiografia é característica da escola liberal e tem como modelo Herculano, sendo muito comprometido com os ideários da liberdade e do individualismo burguês, condenando veementemente as instituições absolutistas e os privilégios por nascimento. Foi investigador incansável em arquivos, principalmente municipais, mas ainda leitor atento de crónicas antigas, não desprezando nunca a lição dos que o antecederam na escrita da história açoriana. Tinha uma visão social da história, escrevendo preferencialmente sobre as instituições, como o municipalismo. Era, ainda, paleógrafo de reconhecido mérito e, por isso, chamado pelas câmaras para ler os documentos mais antigos.
A sua obra mais conhecida e de maior mérito são os Anais da Ilha Terceira, publicados pela Câmara de Angra entre 1850 e 1864 e constituídos por 4 volumes, abrangendo a história da ilha desde o povoamento aos acontecimentos seus contemporâneos das lutas liberais, o que torna o último volume numa espécie de memórias.
Anteriormente, em 1846, por encomenda municipal, publicou uma Memória Histórica da Capitania da Vila da Praia da Vitória, que já prefigura as linhas essenciais da sua historiografia.
Quando morreu, ultimava o livro Apontamentos Topográficos, que deixou inédito e que só recentemente veio a ser publicado. É um trabalho que pretende abranger a história das ilhas dos Açores, mas que se ressente da falta de investigação para um plano tão ambicioso.
Não deixou também de escrever frequentemente nos jornais, principalmente no Terceirense e no *Catolico Terceirense, artigos de divulgação histórica e de intervenção cívica. J. G. Reis Leite (Dez.2003)
Obras. (1846), Memória Histórica da Capitania da muito notável Vila da Praia da Vitória. Angra, Imp. do Governo [2.ª ed., 1983, Praia da Vitória, Câmara Municipal]. (1850-64), Anais da Ilha Terceira. Angra do Heroísmo, Câmara Municipal, 4 vols. [2.ª ed., 1981, Angra do Heroísmo, Secretaria Regional de Educação e Cultura]. (1990), Apontamentos Topográficos, Políticos, Civis e Eclesiásticos para a História das nove ilhas dos Açores servindo de Suplemento aos Anais da Ilha Terceira. Angra do Heroísmo, Instituto Histórico da Ilha Terceira.
Bibl. Amaral, J. M. S C. R. (1951), O Historiador Francisco Ferreira Drumond ? a sua vida e a sua obra. Angra do Heroísmo, Câmara Municipal. Afonso, J. (1997), Bibliografia Geral dos Açores. Angra do Heroísmo, Secretaria Regional de Educação e Cultura, 3: 96. Catálogo da Exposição Documental e Bibiliográfica sobre o Historiador Francisco Ferreira Drumond (1996), Angra do Heroísmo, Biblioteca Pública e Arquivo. Leite, J. G. R. (1987), As Fontes de Francisco Ferreira Drumond nos Anais da Ilha Terceira. Sep. do Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira. Id. (1990), Introdução In Apontamentos Topográficos de F. F. Drumond. Angra do Heroísmo, Instituto Histórico da Ilha Terceira: i-xxiv.