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Alberto I, príncipe do Mónaco

(Albert Honoré Charles Grimaldi) [N. Paris, 13.11.1848 - m. ibid., 26.6.1922] A sua grande paixão pelo mar desde a infância fê-lo desejar tornar-se oficial de marinha. A sua formação, começada em França, prossegue na Marinha Real espanhola (Novella, 1992; Carpine-Lancre, 1993).

Em 1873, o príncipe Alberto compra uma goleta, baptizando-a de Hirondelle. A bordo dela faz viagens cada vez mais longínquas, pelo Mediterrâneo e Atlântico. No começo do ano de 1879 deixa Tânger com destino às Canárias e Madeira, chegando, a meio de Março, aos Açores. Visita o arquipélago durante um mês; fica extasiado com a beleza da paisagem, a variedade da vegetação e é conquistado pelo acolhimento dos seus habitantes (Carpine-Lancre, 1992).

Fora dos seus cruzeiros, o príncipe encontra-se com universitários e professores do Museu de História Natural, em Paris. De facto, está fascinado com o progresso científico e técnico e dá uma atenção especial aos problemas da origem da vida e da evolução das espécies. Interessa-se igualmente pelas investigações marinhas que não cessam de se desenvolver. A Grã-Bretanha organiza a expedição à volta do mundo da corveta HMS Challenger. Quanto à França, ela põe à disposição do professor Alphonse Milne-Edwards dois navios da Marinha nacional: o Travailleur, e de seguida o Talisman. Os resultados obtidos no decorrer das expedições francesas são apresentados ao Museu, em 1884. O interesse da exposição e os conselhos de Milne-Edwards fazem que o príncipe Alberto consagre à oceanografia, de ora em diante, os meios e todo o tempo de que pode dispor. Treze das vinte e oito campanhas que organiza e dirige a partir de 1885 são dedicadas, na totalidade ou em parte, ao estudo dos Açores. Os trabalhos dizem respeito à oceanografia física, à oceanografia biológica, assim como à meteorologia marinha, de acordo com um programa cuja amplitude cresce de ano para ano. As correntes superficiais no Atlântico Norte são um dos temas de investigação em três das campanhas da Hirondelle. Flutuadores de vários tipos são imersos, primeiramente a noroeste das Flores, e, dois anos mais tarde, entre o Faial e o banco da Terra-Nova (Albert de Monaco, 1890). A colheita de animais marinhos em todas as profundidades é um dos principais objectivos dos trabalhos a bordo (Mills, 1980, 1983). Para que estas recolhas sejam sempre mais ricas e variadas, o príncipe nunca deixa de melhorar ou de criar novos dispositivos de colheita (Albert de Monaco, 1889, 1905). Deste modo, durante a campanha de 1888, imagina uma nassa triédrica utilizada pela primeira vez entre o Pico e S. Jorge (Carpine, 1991). Os estudos zoológicos não se limitam ao domínio marinho. A fauna terrestre e aquática de água doce da lagoa das Sete Cidades, da cratera do Faial, dos cursos de água da Graciosa, Flores e Corvo são também alvo de uma especial atenção (Guerne, 1888).

Após suceder a seu pai em 1889, o príncipe Alberto manda construir um navio de três mastros com um motor auxiliar, o Princesse-Alice. É neste navio que assiste, em 1895, a um episódio que evocará muitas vezes: a morte de um cachalote ao largo da Terceira (Albert de Monaco, 1896b, 1903-1909). Os fragmentos de moluscos cefalópodes regurgitados então pelo cachalote revelam-se de grande interesse biológico e sistemático (Albert de Monaco, 1896b). Daí em diante, sempre que possível, o príncipe captura mamíferos marítimos de modo a possibilitar não só o estudo da sua anatomia mas também da sua fisiologia, através do exame dos conteúdos estomacais e dos parasitas. Para a captura de cetáceos, o príncipe equipa-se com embarcações e instrumentos inspirados no equipamento dos baleeiros açorianos.

No decurso do ano de 1896, localiza a sudoeste dos Açores um baixio a menos de 50 m da superfície (Albert de Monaco, 1896b). A sua extensão e topografia são estudadas no ano seguinte. Este baixio, que o príncipe denomina por Banco Princesa Alice, oferece novos recursos aos pescadores do arquipélago. Por outro lado, a descoberta é de importância para a navegação e para a topografia submarina. Foi feita uma carta náutica com as características do banco, que são assinaladas nos Avis aux navigateurs das principais potências marítimas.

O professor Julien Thoulet, colaborador do príncipe, faz a síntese dos dados recolhidos até àquele momento numa carta batimétrica cuja primeira edição aparece em 1899 (Thoulet, 1899a, 1899b; Machado, 1992). A descoberta da fossa da Hirondelle, entre S. Miguel e a Terceira, graças às sondagens e às medidas de temperatura efectuadas a bordo da segunda Princesse-Alice, torna necessária uma nova edição desta carta (Thoulet, 1903).

O príncipe Alberto, desde as suas primeiras campanhas nos Açores, toma consciência do interesse que a posição geográfica do arquipélago tem para as previsões meteorológicas (Carpine-Lancre, 1992: 44). Além disso, a recente colocação de cabos telegráficos ligando as ilhas à Europa e à América possibilita a rápida transmissão dos dados. Torna-se, assim, urgente organizar e equipar os observatórios com instrumentos adequados. Múltiplos são os problemas para resolver: localização dos observatórios, estatuto (nacional ou internacional) do Serviço meteorológico dos Açores e fontes de financiamento. O príncipe Alberto multiplica as iniciativas e as diligências durante dez anos, de modo a alcançar o objectivo desejado (Albert de Monaco, 1892a, 1892b, 1898a, 1898b). Beneficia da infatigável cooperação e da rara competência de Francisco Afonso Chaves (Saldanha, 1992). Uma etapa decisiva é vencida aquando da colocação da primeira pedra do Observatório da Horta, por D. Carlos, durante a visita dos soberanos portugueses ao arquipélago.

As ligações do príncipe Alberto aos Açores não se limitam a questões de natureza científica. Ele é também patrono da Sociedade Propagadora de Notícias Michaelenses, que tem por objectivo a promoção do arquipélago (Carpine-Lancre e Saldanha, 1992: 62). Manda executar às suas custas a análise da água das Flores para uma eventual exploração (Pacheco, 1899).

O constante interesse do príncipe Alberto inspirou numerosos testemunhos de reconhecimento nos açorianos. Em 1904, é o próprio príncipe que inaugura, em Ponta Delgada, a avenida que tem o seu nome. Uma nova alameda em Santa Cruz das Flores recebe, por sua vez, em Junho de 1913, o nome de Alberto I de Mónaco. Após o falecimento do príncipe, a 26 de Junho de 1922, novas homenagens são prestadas à sua memória: são-lhe dedicados o Observatório Meteorológico da Horta e uma praça na ilha do Corvo.

O príncipe reservou um lugar privilegiado aos Açores no seu livro autobiográfico La carrière d?un navigateur. O romance de Vitorino Nemésio Mau Tempo no Canal prova a persistência do sucesso da obra principesca e da memória do seu autor no arquipélago. Jacqueline Carpine-Lancre [trad. Ana Costa Lopes] (2002)

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