Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Doze Ribeiras

TOPONÍMIA Freguesia do Concelho de Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, localizada na parte ocidental da ilha, entre as freguesias da Serreta, a norte, e a de Santa Bárbara, a sul. Ocupa uma área de 10,37 km2. GEOGRAFIA Está sobre a vertente ocidental do maciço vulcânico da Serra de Santa Bárbara, desde a cumeada, entre 950 e 1.000 m de altitude, e o mar. A vertente é muito declivosa, especialmente no sector mais alto (marco geodésico, da serra Alta das Doze, com 961 m), e com rechãs e pequenos cones vulcânicos secundários (Pico das Dez com 461 m de altitude, Outeiro das Doze, com 215 m), no sector mais baixo. Toda a freguesia é muito bem drenada por cursos de água que nascem na cumeeira da Serra de Santa Bárbara. Destacam-se a Ribeirinha, e as ribeiras das Doze (a mais importante bacia hidrográfica) e das Dez. A costa é formada por uma arriba alta, pouco recortada, no cimo da qual desaguam, por cascatas, as ribeiras citadas.

A população, que em 1991 era de 610 habitantes (305 mulheres e 305 homens, em INE, 1991), o valor mais baixo desde meados do século XIX, concentra-se num aglomerado urbano contínuo, disposto ao longo da estrada litoral, pelos 100 m de altitude, incluindo as povoações de À Bagacina (70 residentes), À Igreja (428 residentes) e Ribeira das Dez (112 residentes), e em quintas agro-pecuárias com casas dispersas na baixa encosta, entre a estrada e o mar. As terras altas são ocupadas por pastagens, e as das baixas encostas, por terrenos de cultivo e também por parcelas com pequenas pastagens. 2 Sede da freguesia do mesmo nome, do concelho de Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, situada em À Igreja (à volta da igreja de S. Jorge, padroeiro da freguesia). M. Eugénia S. de Albergaria Moreira (Mar.2003)

 Bibl. Instituto Nacional de Estatística (1991), XIII Recenseamento Geral da População. III Recenseamento Geral da Habitação. Dados definitivos. Lisboa, INE.

HERÁLDICA Armas: escudo dito português, de prata com três figuras, um dragão, um arado e duas ondas, tudo verde, dispostas 1, 2, 3. Coroa mural de prata de três torres. Lintel de prata com dizeres: ?Doze Ribeiras?.

Bandeira: Pleno lilás com as armas ao centro. Cordões e borlas de prata e lilás. Haste e lança de ouro.

Selo: circular tendo ao centro as peças das armas, sem indicação dos esmaltes. Em volta: dentro de um círculo concêntrico os dizeres ?Junta de Freguesia de Doze Ribeiras Angra do Heroísmo? com duas estrelas separando ambos os dizeres.

Estas armas foram aprovadas no ano de 2003, não havendo memória de outras anteriores. A sua simbologia é: o dragão de São Jorge patrono da freguesia, um arado símbolo da actividade agrícola e as ondas representando o oceano, aliás, a cor da ilha Terceira. J. G. Reis Leite (Nov.2003)

História, Actividades Económicas e Culturais O seu nome deriva de se ter desenvolvido junto da décima segunda ribeira a contar da sede do concelho, de onde dista 16 km pela estrada regional, e tem por orago S. Jorge.

A origem do povoamento do local recua aos finais do século XV quando as terras dessa zona foram distribuídas em sesmaria pelo capitão de Angra João Vaz Corte-Real. Em 1526, Afonso Lourenço e sua mulher Marqueza Gonçalves Machado, da segunda geração de povoadores, instituíram nas suas propriedades uma ermida devotada a S. Jorge. Com sede na ermida foi instituída no início do século XVII um *curato anexo à paroquial de Santa Bárbara, a que pertencia. O primeiro cura terá sido Francisco Dias Godinho. Só nos finais desse século, com o aumento populacional se desmembrou de Santa Bárbara, passando a paroquial. Foi seu primeiro vigário Manuel Tristão de Melo, antigo cura de Santa Bárbara, que baptizou o primeiro freguês a 16 de Dezembro de 1684. Pouco se conhece da vida da freguesia no século XVIII, para além das generalidades que tinha oficiais de milícias, que comandavam as respectivas companhias e juiz pedâneo posto pela câmara de Angra. A sua população sempre se dedicou à lavoura e à criação de gado, ovelhas e porcos. Contudo, devido à aspereza dos terrenos, era um gado considerado o pior da ilha. Quando da resistência dos povos rurais da Terceira à revolta militar liberal, em 1828, ficou famosa esta freguesia por se ter tornado esconderijo dos ?rebeldes? e asilo dos desertores. O seu primeiro templo paroquial foi construído sobre a ermida de S. Jorge, mas no ano de 1893 ficou muito danificado pelo ciclone de 28 de Agosto, tendo então decidido arrasá-lo e substituí-lo por uma nova igreja cuja primeira pedra foi lançada em 1896 e terminada a 27 de Agosto de 1899. Esta igreja foi por sua vez destruída pelo terramoto de 1980 e reconstruída.

Os limites da freguesia são, desde a sua fundação, a décima ribeira (a das Dez), que a separa de Santa Bárbara, e a das Catorze, que a separa da Serreta, desde 1862, quando este lugar foi feito freguesia, estando anteriormente integrado nas Doze Ribeiras que atingia, assim, a rocha do Peneireiro, onde a ilha vira a noroeste.

Ao longo do século XIX foi uma das freguesias mais pobres do concelho, muito fustigado pelos temporais que lhe causavam estragos e instabilidade social. Em 1865 foi fundada a Sociedade de Beneficência Mútua, constituída por proprietários, lavradores e trabalhadores com o fim de auxiliar nos prejuízos dos associados.

Tem cemitério, o actual, desde 1883, império do Espírito Santo, em pedra, edificado em 1891, e vários chafarizes, sendo o da praça de 1863, hoje secos com a distribuição domiciliária de água.

No século XX foi acompanhando os progressos da civilização, com electricidade púbica desde 1965, com edifício da escola do Plano dos Centenários, inaugurada em 1960, onde se instalou a escola primária fundada em 1888.

A freguesia das Doze Ribeiras foi a mais destruída pelo terramoto de 1 de Janeiro de 1980, sendo hoje o seu parque habitacional e edifícios públicos todos novos, mas a freguesia perdeu mais de metade da população, que a abandonou.

As principais festividades anuais são a festa do orago, a 23 de Abril, a procissão da Penitência, no primeiro domingo da Quaresma e a Procissão dos Abalos, cortejo da penitência comemorativo da crise sísmica e vulcânica de 1867, na Serreta, para além da comemoração do Espírito Santo, comum a toda a ilha.

Entre os seus filhos notáveis conta-se o subdiácono José Lourenço da Rocha (1768-1844), o cónego Jeremias Machado da Rocha Simões (1903), o monsenhor Henrique Rodrigues da Rocha (1901-?) e o Dr. José Mendes Melo *Alves (1936-1991).

Fundado pelo pe. João de Bento Meneses tem um dos mais interessantes e activos grupos folclóricos, com sede própria, além da Filarmónica Rainha Santa Isabel, de recente formação. J. G. Reis Leite (Nov.2003)

Bibl. Drumond, F. P. (1990), Apontamentos Topográficos, Políticos, Civis e Eclesiásticos para a História das nove Ilhas dos Açores servindo de suplemento aos Anais da Ilha Terceira. Angra do Heroísmo, Instituto Histórico da Ilha Terceira: 298. Andrade, J. E. de (1891), Topographia ou Descripção Physica, Politica, Civil, Ecclesiastica, e Historica da Ilha Terceira dos Açores, Parte Primeira, offerecida á Mocidade Terceirense. 2.ª anotada por José Alves da Silva. Angra do Heroísmo, Livraria Religiosa Editora: 361 e seguintes. Merelim, P. (1974), As 18 paróquias de Angra. Sumário Histórico. Angra do Heroísmo, Edição do autor: 45-71.