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Darwin, Charles

 [N. Mount, Shrewsbury, Inglaterra, 12.2.1809 ? m. Down, Kent, Inglaterra, 19.4.1882] Naturalista inglês. Quando jovem, na escola e na universidade, esteve bastante mais interessado na história natural do que em medicina ou na vida religiosa, as profissões que a sua família pensava mais convenientes para ele. Contudo, todas as incertezas acerca do seu futuro foram dissipadas quando, em 1831, integrou a tripulação do brigue de investigação H. M. S. *Beagle como naturalista, a convite do comandante Robert FitzRoy, para uma viagem à volta do mundo. A maior parte do tempo foi passada a investigar as costas sul americanas, as Pampas da Argentina, a geologia dos Andes e as ilhas Galápagos, mas visitou também o Haiti, a Nova Zelândia, a Austrália, as ilhas Maldivas e as Maurícias.

No seu regresso a Inglaterra, o *Beagle escalou a ilha Terceira, onde ancorou ao largo de Angra, em 19 de Agosto de 1836. A propósito desta estada, Darwin registou, no seu diário, descrições breves da ilha, da cidade e de duas excursões em terra, uma à Praia, incluindo alguns apontamentos históricos, económicos, sociais, etnográficos, faunísticos, florísticos e geológicos. A 25 do mesmo mês escalou Ponta Delgada, para receber correspondência, de onde largou directo a Inglaterra.

O período de quase cinco anos, de 27 de Dezembro de 1831 a 2 de Outubro de 1836, passados a bordo daquela embarcação foram decisivos para a sua vida. As duas grandes virtudes de Darwin, perspicácia de observação e capacidade para investigar, habilitaram-no a acumular uma grande quantidade de material durante esta viagem.

Depois do regresso do Beagle, dedicou a maior parte do seu tempo à análise e interpretação dos seus achados, primeiro em Londres e depois, na pequena povoação de Down, Kent, 16 milhas a sul de Londres, a partir de 1842, onde viveu cerca de 40 anos. Devido a uma saúde débil, provavelmente resultante de uma enfermidade tropical contraída na Argentina, durante a viagem do Beagle, não voltou a fazer viagens longas e recusou ocupar cargos públicos. Foi em Down que escreveu The Origin of Species bem como a maior parte das suas outras obras principais.

A obra The Origin... foi o resultado de mais de 20 anos de trabalho. Darwin tinha ficado convencido da ocorrência da evolução algumas vezes entre 1835, ano da visita às ilhas Galápagos, e 1837, quando faz referência, pela primeira vez, à transmutação das espécies. Para Darwin, a evolução era mais do que uma mudança no aspecto dos indivíduos devida à múltipla expressão de tendências intrínsecas. O seu conceito de evolução exigia uma mudança genética, real, de geração em geração, isto é, uma rotura completa com os chamados conceitos de evolução de Lamark e dos seus predecessores.

Nesta obra, Darwin pondera a origem dos povoamentos vegetais e animais dos Açores. Contrariando a hipótese de Forbes, defendida por Wollaston e outros, segundo a qual os Açores, a Madeira e as Canárias constituiriam restos de um continente, Darwin considera a colonização insular consequência de migração a distância com o auxílio de agentes múltiplos.

Francisco de Arruda Furtado, naturalista micaelense, atraído por este problema, tomou a iniciativa de escrever a Darwin, dispondo-se a efectuar observações sobre o transporte de seres vivos pelas correntes marítimas e pelas aves, solicitando apoio e orientação.

A troca de correspondência entre Darwin e Furtado aconteceu durante a estada deste em Down, já no fim da sua vida, e foi publicada, pela primeira vez, por Tavares (1957). Luís M. Arruda (2003)

Bibl. Barrett, P. H. e Freeman, R. B. (ed.), (1986), The works of Charles Darwin, vol. III: Journal of researches, part two. Londres, William Pickering. Id. (1887), The works of Charles Darwin, vol. I: Diary of the voyage of H. M. S. Beagle. Nova Iorque, New York University Press. Carrington, J. J. (1882), Charles Robert Darwin, obituary notice. The entomologist, 15, 228: 97-102. Mayr, E. (1964), Introduction to Charles Darwin, On the Origin of Species. Cambridge, Harvard University Press. Tavares, C. N. (1957), Quatro cartas inéditas de Charles Darwin para Francisco d?Arruda Furtado. Revista da Faculdade de Ciências de Lisboa, (C), 5, 2: 277-306.