Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Costa-Nunes, José da (D.)

 [N. Candelária, ilha do Pico, 15.3.1880 ? m. Roma, 29.11.1976] Bispo de Macau (1920-1940) e Arcebispo Metropolitano de Goa e Damão (1940-1953). Primaz do Oriente e Patriarca das Índias Orientais (1940), foi elevado ao cardinalado em 1962. Filho de José da Costa Nunes e Francisca Felizarda de Castro, realizou no Liceu da Horta (Faial) o exame de admissão aos estudos liceais (1892) e ingressou no Seminário Episcopal de Angra (1893). Desde muito jovem, colaborou em jornais e revistas, fazendo uso de múltiplos pseudónimos, revelando a sua obra, nos artigos jornalísticos, nos textos de conferência, nas pastorais, nas homilias e cartas que dele conhecemos, um talento nato para a literatura e a oratória. Recebeu a Prima Tonsura e Ordens Menores na igreja do antigo convento angrense de S. Francisco (1.6.1901). Em 1902, ainda estudante do último ano de Teologia, o eleito bispo de Macau, D. João Paulino de Azevedo e Castro, escolheu-o para seu secretário particular. Abandonou as ilhas na companhia do prelado, chegando a Macau em 4.6.1903. No mesmo ano, feito o exame de Teologia no Seminário Diocesano de S. José de Macau, recebeu ordens de presbítero a 26.7. Reconhecidos os seus dotes de sacerdote devotado, de professor ? no Seminário Diocesano (para que seria nomeado vice-reitor interino por provisão de 6.5.1915) e no Liceu de Macau ?, orador, escritor e músico, a sua ascensão na diocese começaria com a sua nomeação para vigário-geral (14.7.1906) e governador do bispado (3.4.1907). Esteve nas missões de Malaca, Singapura e Timor (1911) e, em princípios de 1915, fundou a revista Oriente. Por morte de D. João Paulino, foi eleito vigário capitular em sessão do cabido de 22.2.1918, cargo que exerceu até 16.12.1920, data do consistório secreto que o preconizou bispo da diocese de Macau. Contribuiu para a sua nomeação o trabalho intenso que desenvolveu como vigário capitular na recuperação das finanças e na reorganização interna da diocese. Sagrado na Matriz da Horta (Faial), a 20.11.1921, por D. Manuel Damasceno da Costa, fez entrada solene na sua sede diocesana a 4.6.1922. As suas principais acções, entre este ano e 1940, foram as seguintes: em Macau, entregou o Seminário à direcção espiritual dos Jesuítas e o Colégio de Santa Rosa de Lima às Franciscanas Missionárias de Maria; fundou um colégio para rapazes chineses; incrementou a educação profissionalizante; ergueu capelas e restaurou templos; no interior da China, reformou as missões e aumentou o número de missionários, multiplicando igrejas, residências, obras escolares e de assistência; em Timor, cujo estado era miserável em todas as esferas da vida eclesiástica, religiosa, catequética e financeira, reduziu os vicariatos de dois em um, fundou uma instituição escolar de catequistas, que dava uma instrução equivalente ao então 3.º ano dos liceus e habilitava os formados a leccionar os níveis da instrução primária, criou colégios para jovens e uma escola de artes e ofícios; de tal forma que, dois anos depois, em 1926, os resultados se revelaram excelentes; porém, descontente, reconhecendo a distância entre Macau e Timor, lutou junto da Santa Sé para a elevação deste vicariato a diocese, o que conseguiu a 18.1.1941; em Singapura e Malaca, prosseguiu a sua acção nos mesmos moldes, dotando estas terras de estruturas escolares e desenvolvendo o espírito de missão e a catequese. Em 1940, a estatística, por relação com 1918, revelava a existência de mais 21.288 católicos: 29.628, n.º de 1918; 50.916, n.º de 1940. Promovido por Pio XII a arcebispo de Goa e Damão, titular de Cranganor, Primaz do Oriente, com o título de Patriarca das Índias Orientais (11.12.1940), abandonaria Macau no ano seguinte (25.11), possivelmente devido à II Guerra Mundial, cujos efeitos ali se faziam sentir. Chegado à Índia, tomou posse da Sé de Goa a 18.1.1942. Visitou toda esta extensa arquidiocese até aos pontos mais distantes (Damão, Nagar-Aveli e Diu) e aí continuou um trabalho de modernização e de elevação intelectual das populações, em nada inferior ao de Macau. Seria, pela notável obra no Oriente, condecorado pelo governo português com a Grã-Cruz da Ordem do Império Colonial (3.6.1946) e com a Grã-Cruz da Ordem de Cristo (22.7.1953). A Santa Sé nomeou-o Presidente da Comissão Permanente dos Congressos Eucarísticos Internacionais (13.7.1953). Tendo renunciado ao seu cargo na arquidiocese de Goa e Damão, Pio XII investiu-o, a 16.12.1953, nas dignidades de Patriarca-Arcebispo Titular de Odesso (Itália) e Vice-Carmelengo da Santa Igreja Romana. Fixou residência em Roma no ano seguinte. João XXIII elevou-o a cardeal no dia do seu onomástico, S. José, a 19.3.1962, impondo-lhe o barrete cardinalício a 22.3. Esteve presente no Concílio Vaticano II (1962-1965) e participou no conclave de 1963 que iniciou o pontificado de Paulo VI (perderia este direito de participação no conclave a 1.1.1971, por ter mais de 80 anos). Esteve, em 1964, no IV Centenário das Missões da Companhia de Jesus em Macau, como enviado papal, aí recebendo eloquente manifestação de carinho dos seus antigos diocesanos, que o proclamaram Cidadão Benemérito, descerrando o seu retrato no salão nobre do Leal Senado. Em 1967, compareceu nas Festas Jubilares de Fátima como Legado a latere de Paulo VI. Na Candelária do Pico, inaugurou o Patronato Infantil da Casa de S. José (30.8.1970), entregue às Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, doando a sua própria casa para esse fim. 23 anos passados ao serviço da Cúria Romana, era o membro mais antigo do Sacro Colégio de Cardeais quando faleceu. Contava 96 anos de idade. Realizaram-se as exéquias na Basílica de S. Pedro a 2.12.1976. Sepultado provisoriamente no cemitério Campo Verano, foi o seu corpo transferido para o túmulo na Igreja de Santo António dos Portugueses (Roma). Manuel Cândido Pimentel (2002)

Obra (1990), Textos do Cardeal Costa Nunes. Macau, Fundação de Macau, 7 vols. (vol. I: Estudante e Jornalista; vol. II: Escritos; vol. III: Cartas da China; vol. IV: Documentos Oficiais; vol. V: Pastorais; vol. VI: Conferências; vol. VII: Viagens).

 

Bibl. Anuário Católico de Portugal (1953), Lisboa, Rádio Renascença: 403-404. Boletim Eclesiástico dos Açores (1971), Cardeal Dom José da Costa Nunes: Bodas de Oiro da Sagração Episcopal. 40: 18-20. Cardeal D. José da Costa Nunes: In Memoriam no Centenário do Nascimento: 1880-1980 (1980), Braga, Editorial A.O. (Secretariado Nacional do Apostolado da Oração). Lourenço, J. M. (1981), Açorianos em Macau. Angra do Heroísmo, José Barcelos Mendes: 29-30. Pereira, J. A. (1939), Padres Açoreanos: Bispos, Publicistas, Religiosos. Angra do Heroísmo, União Gráfica Angrense: 15-16.