Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Corvo, ilha do

GEOLOGIA A ilha do Corvo localiza-se sobre a placa litosférica Americana, a oeste do rifte da Crista Média Atlântica, edificada sobre fundo oceânico com cerca de 10 Ma (milhões de anos) de idade (Luís et al., 1994). Corresponde à porção emersa de um edifício vulcânico do tipo central que se eleva de 1500 m de profundidade até á altitude de 718 m no rebordo sul da caldeira central (Caldeirão). Antes da formação da caldeira que lhe truncou o topo, este vulcão apresentaria uma altura total de cerca de 2,5 km, 1000 m dos quais acima do nível do mar.

A geologia da ilha é relativamente simples por se tratar de um edifício vulcânico único, essencialmente constituído por um empilhamento de derrames lávicos, intercalados com materiais piroclásticos. As suas formações vulcânicas foram agrupadas em dois grandes grupos estratigráficos (Dias, 2001): os Complexos de Base, correspondendo às formações vulcânicas submarinas que antecederam a emersão da ilha, e os Complexos Superiores, constituídos por produtos vulcânicos emitidos por vulcanismo sub-aéreo. No trabalho citado são apresentadas duas datações absolutas, obtidas pelo método do K/Ar (potássio/árgon), em rocha da base da série subaérea (CS1) e em amostra da série anterior ao colapso da caldeira (CS2). Aquelas datações indicam, respectivamente, idades de 710 e 430 mil anos; consequentemente, a emersão da ilha terá ocorrido há cerca de 710 mil anos e o colapso da caldeira será mais recente que 430 mil anos. Contudo, as datações referidas apresentam um desvio padrão demasiado elevado (da mesma ordem de grandeza da idade obtida) pelo que devem ser apenas tomadas como valores indicativos.

As formações do Complexo de Base são essencialmente constituídas por produtos piroclásticos e brechas, característicos das manifestações hidrovulcânicas (ou freato-magmáticas), e apresentam elevado grau de alteração. Estas formações foram separadas em duas unidades, designadas Complexo de Base 1 e 2 (CB1 e CB2), com base em descontinuidades de carácter litológico e morfológico.

As formações subaéreas constam de derrames lávicos de natureza basáltica e havaítica, por vezes porfiríticos, intercalados com níveis piroclásticos de calibre variável, emitidos na sequência de actividade vulcânica havaiano-estromboliana. As rochas de fácies porfirítica (do tipo ancaramito) apresentam fenocristais grosseiros de olivina e piroxena. Neste conjunto foram definidas duas grandes unidades (Dias, 2001), os Complexos Superiores 1 e 2 (CS1 e CS2), que se encontram separados por um nível avermelhado (possivelmente um paleossolo metamorfizado), indicador de pausa mais ou menos prolongada na actividade eruptiva. Nalguns sectores, a passagem entre as duas unidades encontra-se também marcada pela presença de níveis de pedra pomes que indiciam actividade vulcânica pliniana há mais de 430 mil anos. Na estratigrafia da ilha foram ainda individualizados os produtos vulcânicos associados aos cones adventícios mais recentes (Coroínha, Morro da Fonte, Grotão da Castelhana e Coroa do Pico), que se encontram ainda relativamente preservados da acção erosiva; aquela sub-unidade inclui depósitos piroclásticos estrombolianos e freatomagmáticos emitidos pelos cones referidos e, ainda, produtos explosivos recentes do vulcão central.

A caldeira, que tem 2,3 km de diâmetro máximo, segundo o eixo N-S, e profundidade de cerca de 300 m, apresenta formas muito adoçadas pela erosão, quando comparada com as caldeiras das restantes ilhas, sugerindo tratar-se de estrutura relativamente antiga. Por sua vez, a sua forma elíptica e regular parece indicar que se terá formado no decurso de um episódio de colapso único.

Do ponto de vista da tectónica, a ilha do Corvo, bem como a das Flores que se situa no mesmo contexto geodinâmico, parece estar estruturalmente controlada por falhas orientadas aproximadamente N-S, direcção regional do rifte da Crista Média Atlântica, e por estruturas com direcção próxima de E-W, paralelas às falhas transformantes que segmentam o vale do rifte. De facto, as duas ilhas correspondem aos topos emersos de uma crista submarina com direcção próxima de N-S, e, nas Flores, os troços setentrional e meridional da linha de costa apresentam grande rectilinearidade e orientação E-W, que indiciam importante controlo tectónico. Na ilha do Corvo o alinhamento definido pela caldeira e pelos cones da Coroinha, Morro da Fonte e da Ribeira da Castelhana, indica controlo da actividade vulcânica por uma estrutura tectónica principal orientada segundo a direcção N-S.

No que respeita a geomorfologia, pode dizer-se que a ilha do Corvo corresponde a um vulcão do tipo central, cuja área se encontra actualmente reduzida pela erosão marinha que entalhou altas arribas; este efeito é particularmente importante nas fachadas norte e oeste que sofrem os efeitos dos temporais mais intensos. O recuo das arribas costeiras atingiu já o bordo ocidental da caldeira.

A superfície da ilha corresponde fundamentalmente a vertentes estruturais constituídas por derrames lávicos provenientes, maioritariamente, do centro eruptivo principal (conduta do vulcão central), cobertos em muitos locais por depósitos piroclásticos das erupções mais recentes. As vertentes do vulcão encontram-se parcialmente preservadas nos flancos sul e leste, muito reduzidas pelo recuo das arribas litorais a norte e completamente ausentes a oeste. Um dispositivo de drenagem radial recorta a superfície do vulcão, encaixando-se nos produtos piroclásticos até encontrar o topo dos derrames lávicos mais resistentes à erosão. Na vertente meridional sobressaem os relevos dos cones adventícios da Coroinha, Morro da Fonte e da Ribeira da Castelhana. A fajã da vila do Corvo corresponde, certamente, a um delta de lava formado por derrames basálticos provenientes daqueles cones.

A região superior da ilha apresenta uma área deprimida que corresponde à caldeira resultante do colapso da porção superior do edifício vulcânico; tal como na maioria das caldeiras, o fundo encontra-se parcialmente ocupado por uma lagoa formada pela acumulação das águas de precipitação pluvial. José Madeira (Jun.2001)

GEOGRAFIA FÍSICA Com uma área que não vai além de 17,1 km2, o Corvo é a mais pequena ilha dos Açores. Forma, com as Flores, o grupo ocidental do arquipélago. De origem vulcânica, tal como todas as ilhas deste, está condicionado pelo seu enquadramento geofísico de conjunto: assim, situa-se na crista média atlântica, próximo da intersecção com a faixa tectónica que se prolonga na direcção de Gibraltar. O rift que sublinha aquela crista separa as placas euroasiática e africana, que ficam para leste, da americana, a oeste. O Corvo e as Flores encontram-se já nesta, assentes num banco submarino de orientação NNE-SSO. A ilha do Corvo corresponde a um cone vulcânico, em cujo cimo se deu um abatimento, a partir do qual se alargou a cratera inicial, originando-se uma caldeira, conhecida localmente pelo nome de Caldeirão. O seu diâmetro máximo atinge perto de 2300 m e a profundidade alcança 300 m. No fundo existe um lago, cortado por vários cones vulcânicos secundários, de pequena dimensão; não tem fundamento a tradição segundo a qual representariam aproximadamente, no número e na disposição, o arquipélago dos Açores. Segundo Raoul C. Mitchell-Thomé, a subsidência que originou a caldeira do Corvo ter-se-á dado nos últimos episódios da formação do aparelho vulcânico onde ocorreu, na sequência da intrusão de lavas por fracturas periféricas próximo do cume e por fracturas radiais nos flancos: o esvaziamento da câmara magmática resultante dessas intrusões de lavas estaria na origem do abatimento do cume do cone vulcânico. Esta seria assim uma caldeira de tipo Galápagos. Note-se que, com efeito, o cone vulcânico, que constitui a ilha do Corvo, apresenta uma densa rede de filões, na sua maior parte dispostos radialmente, a partir do Caldeirão, ou então com orientação NE-SO, paralela à da crista submarina centro-atlântica. O Corvo, no seu todo, está disposto de norte para sul, mais ou menos segundo a mesma direcção, com perto de 6 km de comprimento; a largura atinge o valor máximo de uns 4 km. As rochas são essencialmente basálticas, embora haja outras, mugearíticas. Nota-se a presença de mantos lávicos e de abundantes materiais piroclásticos, de diferentes dimensões. Segundo G. Zbyszewski, terá havido cinco fases vulcânicas principais, a primeira das quais explosiva, fundamentalmente submarina, e a segunda, efusiva, caracterizada por importantes emissões de lavas basálticas. No seu conjunto, os materiais que se foram acumulando não são muito resistentes, de modo que a erosão marinha progrediu com facilidade, destruindo o flanco ocidental do cone, onde as arribas cortam já a encosta interior do Caldeirão, no sector mais a norte. Com efeito, os ventos principais, que dão mais vigor à erosão marinha, sopram de noroeste e oeste; na parte ocidental da ilha e a norte, as arribas atingem altitudes entre 500 m e 700 m. A parte oriental do cone ficou mais preservada, com arribas de menores proporções (150 m a 250 m). Atendendo à sua reduzida dimensão, pode dizer-se que o Corvo alcança altitudes apreciáveis; culminam a 718 m, no Estreitinho, situado no bordo sudoeste do Caldeirão. Alguns cones secundários estão implantados no que resta dos flancos exteriores do cone principal. Numa fase um tanto recente da evolução geológica e morfológica da ilha, as arribas que já existiam a sul foram cobertas por derrames lávicos que originaram um abrupto, com cerca de 30º de inclinação, para além do qual se constituiu uma pequena plataforma com altitudes entre 60 m e 10 m. Ficou assim definida a configuração geral da ilha. O clima enquadra-se nos condicionamentos e na sucessão habitual dos tipos de tempo que se verificam nos Açores. O Corvo está situado a 39º 40? de latitude Norte e a 31º 5? de longitude Oeste. No Inverno é atingido por depressões diversas, relacionadas com as ondulações da frente polar ou com outras origens. Esta é a estação mais fresca e chuvosa, na qual se verificam frequentes tempestades. A temperatura média mensal desce até pouco menos de 14º C em Fevereiro e as chuvas atingem médias de mais de 100 mm por mês entre Outubro e Março, com um máximo de 140 mm em Janeiro. No Verão faz-se sentir a influência do anticiclone dos Açores, que se localiza então próximo do arquipélago. Em Julho, Agosto e Setembro, as temperaturas médias mensais elevam-se a mais de 20º C (com o valor maior em Agosto, pouco mais de 22,5º C) e a precipitação média mensal anda próxima dos 50 mm em Junho e Julho. A precipitação (em média, 1105 mm por ano), embora avultada, e caindo com grande intensidade por ocasião das maiores tempestades, é inferior aos valores que se registam nas Flores (perto de 1500 mm em Santa Cruz, mais de 1700 mm no aeroporto, para o que devem contribuir as incidências do maior volume montanhoso desta segunda ilha; note-se que, nos Açores, a tendência geral é a do aumento das chuvas, de leste para oeste, o que também poderá reforçar a estranheza quanto ao valor registado no Corvo). As precipitações escoam-se tumultuosamente por pequenos cursos de água temporários, nos flancos exteriores do maciço eruptivo principal, onde o regime torrencial é extremo: após um aguaceiro mais forte, os caudais elevam-se a alguns metros cúbicos, mas algumas horas depois as minúsculas ribeiras de pendores acentuadas encontram-se de novo secas. Um aspecto relevante do clima do Corvo é a elevada velocidade que atingem os ventos: os valores médios mensais são superiores a 20 km/h em Novembro, Janeiro, Fevereiro e Março, e nestes meses os ventos de NO sopram em média com mais de 30 km/h. O número médio anual de dias com ventos fortes (velocidade igual ou superior a 36 km/h) é de 86, sendo 26 com ventos muito fortes (velocidade igual ou superior a 55 km/h). A humidade relativa é constantemente elevada e durante a noite atinge valores médios mensais acima de 80 %. Os solos, constituídos a partir dos materiais vulcânicos da ilha, têm potencialidades apreciáveis, mas os agentes erosivos, condicionados pelos fortes declives, impõem-lhes também limitações quanto à capacidade de uso. Segundo alguns testemunhos, o Corvo encontrava-se coberto por denso mato, quando se encetou a ocupação humana. Por volta de 1589, Frutuoso fala do mato espessíssimo que havia no Caldeirão e do qual se aproveitava madeira de cedro; menciona também a abundância de pau branco, loureiros, tamujos e azevinhos. Ao longo dos séculos, a vegetação natural degradou-se progressivamente.

GEOGRAFIA HUMANA Quando se fala da geografia humana do Corvo, a primeira questão que ocorre é a da própria presença do Homem num retalho insular tão circunscrito. Mas a vaga de povoamento que foi progressivamente avançando pelas várias ilhas dos Açores, atingiu também, ainda que tardiamente, a das Flores, no extremo ocidental, apesar da sua distância em relação às do grupo central. Daqui passou para o Corvo: mas não sem dificuldades. Houve algumas tentativas frustradas no sentido de estabelecer habitantes na pequena ilha (pelo menos duas, nos começos do século XVI), até que o capitão daquela, Gonçalo de Sousa, confirmado na posse das Flores e do Corvo em Novembro de 1548, tomou, sem delongas, uma medida radical: fez instalar no Corvo alguns escravos seus. Depois, alguns habitantes das Flores passaram-se também para o Corvo, onde arrendavam terras ao capitão. Quando Frutuoso escreveu o livro VI das Saudades da Terra, cerca de 1589, a ilha era habitada por uns «vinte vizinhos, rendeiros e negros do senhorio», no total um pouco menos de 100 pessoas. Cultivava-se de tudo, designadamente trigo, legumes variados, linho e pastel (esta, uma cultura de rendimento, generalizada durante algum tempo nos Açores, mas decerto com presença efémera no Corvo); havia muitas ovelhas, mas também gado bovino e outros animais. No tempo de Frutuoso, faziam-se exportações para a Terceira (que centralizava o comércio dos Açores), por exemplo de lã, linho, panos, manteiga, favas, batatas. Mas com o aumento da população e a obrigação de enviar trigo e outras rendas para o senhor das duas ilhas, a situação foi-se tornando crítica. Nos anos 40 do século XVII, Diogo das Chagas refere que o gado miúdo pertencia ao conde de Santa Cruz, a quem havia sido concedida a ilha; era o seu almoxarife que vendia aos habitantes pano de lã. Em 1678, havia já no Corvo 122 fogos, o que exprime acentuado crescimento demográfico em relação a 1589. Ataques de piratas e intempéries agravavam a situação destes habitantes: e de tal forma que, em 1768, solicitaram à Coroa permissão no sentido de se transferirem para «algum dos seus domínios da América». Na sua petição, mencionavam que o trigo produzido se destinava ao pagamento do foro, resultando precárias as condições de alimentação, não obstante a utilização de milho (pouco), que pela primeira vez aparece mencionado na ilha. Esta situação precária foi-se mantendo e, só com o liberalismo, em 1832, foi aliviado decisivamente o regime foreiro, que acabou por ser extinto em 1852. Então, o milho expandiu-se, declinou a cultura do trigo, embora mantendo alguma importância até aos começos da segunda metade do século XX, as ovelhas foram divididas pelos habitantes, continuando a pastar livremente no baldio, em comum, mas passando a ser referenciadas pelos donos a partir de marcas nas orelhas.

A população sempre viveu num só lugar, o actual, logicamente situado na plataforma meridional, a área de mais fácil acesso. Trata-se de uma aglomeração, a única verdadeiramente característica dos Açores, circunstância que se explica por imperativos de segurança, pelo ambiente de isolamento, eventualmente por alguma influência das áreas de origem duma parcela dos primeiros povoadores. A concentração exagerada das casas, separadas por estreitas ruelas, as canadas, a que se foram juntando vias mais largas, verdadeiras ruas, manteve-se até aos dias de hoje.

A estruturação da paisagem rural consolidou-se progressivamente. Tal como ainda se apresentava nas primeiras décadas do século XX, compreendia: as terras de baixo, minúsculas parcelas separadas por muros de pedra e instaladas na plataforma meridional, onde o trigo era cultura relevante e se produzia também batata-doce, batata, hortaliças diversas; as terras de cima, destinadas essencialmente ao milho, com intercalação de parcelas arborizadas (hortas) e de outras mais pequenas aproveitadas para o cultivo de feijão (currais). Estas terras de cima tinham dimensões um tanto maiores que as de baixo (excepto no caso dos currais); também separadas por muros de pedra, foram-se situando numa faixa relativamente estreita, adjacente à costa oriental, ou seja, na orla litoral do flanco do cone vulcânico que está melhor preservado. Entre as terras de baixo e as de cima, na encosta que limita a norte a plataforma meridional, armaram-se terraços (combros), onde se cultivavam batata e hortaliças. Adjacentes às terras de cima, e desenhando para cima uma faixa um tanto mais larga, estabeleceram-se as pastagens (prados naturais), também conhecidas por relvas. Aqui se constituiu o domínio, por excelência, da criação de gado bovino, cuja importância económica se foi tornando progressivamente maior. Em 1965, os seus efectivos atingiam 700 cabeças. A parte restante da ilha, incluindo o Caldeirão e as suas áreas mais acidentadas, correspondem ao baldio, com uma superfície superior a metade da do Corvo. Durante séculos, o baldio serviu fundamentalmente de pasto para as ovelhas. O seu número atingia cerca de 3500 cabeças em 1934, mas a partir de então não mais parou de declinar, fixando-se em pouco mais de 1800 em 1965, para depois se extinguirem. A tosquia das ovelhas era feita em comum, num dia festivo do quotidiano da ilha, o «dia da lã», nos fins de Maio, altura em que se reunia todo o rebanho. O mesmo se fazia em Setembro, para se tosquiar algum animal que tivesse faltado e para se marcarem as fêmeas com tinta, de modo a que ficasse possibilitada depois a identificação das crias. O gado miúdo restringia-se praticamente às ovelhas; as cabras nunca foram além de algumas dezenas.

A pesca, processada de diversas formas e incluindo várias espécies (tradicionalmente, o cherne assumiu particular relevância), sempre tem fornecido um contributo importante para a alimentação dos corvinos. O mesmo se diga da criação de suínos, cuja carne é muito apreciada e se utiliza bastante.

Entretanto, a população atingiu um máximo por alturas do primeiro recenseamento, em 1864, ano em que se contaram 880 habitantes. Em 1900 havia 800, em 1920 tinham diminuído para 660, aumentando para 730 em 1950. A partir de então a população do Corvo declinou, para se estabilizar nos últimos tempos: 680 habitantes em 1960, 485 em 1970, 370 em 1981, 380 em 1994, 400 no início do século XXI. Neste universo demográfico tão reduzido, qualquer simples factor aleatório tem influência. Mas é um facto que a emigração interferiu bastante na evolução demográfica registada. É bem possível que no século XVIII tivesse partido gente para o Brasil, tal como acontecia noutras partes dos Açores; na sua petição de 1768, os corvinos expressavam o desejo de serem levados para os domínios portugueses da América. No século XIX, ganhou relevância a emigração para os Estados Unidos, processada muitas vezes clandestinamente, em barcos que faziam escala na ilha das Flores, para se abastecerem e também para levarem pessoas desejosas de partir que, segundo se sabia, eram em grande número. Nos anos 1920, porém, por motivos ligados à conjuntura no país de destino, a emigração diminuiu muito e só foi retomada perto de 1955. Voltou a fazer-se então para os Estados Unidos, seguindo também vários emigrantes para o Canadá. Depois de um máximo correspondente a 1966 (24 emigrantes), 1969 (23) e 1971 (32), o movimento abrandou (entre 1971 e 1983, apenas partiram para o estrangeiro 17 pessoas, em 5 dos 12 anos que decorreram), processando-se a saída de gente, até à actualidade, de forma reduzida e esporádica. Estabilizada, com número de óbitos equivalente ao de nados-vivos, e partida de alguns habitantes jovens para outras áreas do território português, a população envelheceu acentuadamente. Cerca de 2000, havia mais de 100 pessoas com mais de 60 anos e apenas 79 com menos de 20.

Pode dizer-se que, até aos anos 1960, a geografia humana do Corvo assentava na base de uma economia de subsistência, que se traduzia pelo padrão de ocupação do espaço atrás indicado. As carreiras regulares para o Corvo (Empresa Insulana de Navegação) passaram a fazer-se em 1894, de 4 em 4 meses. Mais tarde a mesma companhia estabeleceu carreiras mensais para o grupo ocidental dos Açores, tocando 6 vezes por ano no Corvo (4 nos fins da Primavera e no Verão, para aproveitar o bom tempo, uma em Março e outra em Outubro); mas nem sempre as condições meteorológicas permitiam que essa escala se efectuasse. Em 1956, as ligações com o Corvo passaram a fazer-se cerca de 20 vezes por ano. Era ainda manifestamente pouco; os dias de chegada do navio agitavam a rotina do dia-a-dia e revestiam-se de significado muito especial. Davam entrada na ilha diversos bens necessários, passou a fazer-se a exportação de gado vivo (à volta de 130 bovinos por ano, entre 1957 e 1964) e de alguma manteiga que se produzia (entre 2 t e 4 t por ano no mesmo período). Mas havia que assegurar na própria ilha, não obstante os severos condicionamentos naturais, a obtenção dos produtos essenciais que garantiam a permanência e a própria vida dos habitantes.

Foi a partir dos anos 1970 que se deram modificações fundamentais, relacionadas, antes de mais nada, com o incremento das relações com o exterior. Quanto às ligações por mar, até meados dos anos 1960 era utilizado o desembarcadouro do Boqueirão, bastante deficiente, no extremo sul da ilha. O Porto da Casa, na pequena baía que margina a povoação, substituiu-o progressivamente, beneficiado por diversas obras em 1966 e 1971. Foi posteriormente ampliado, em 1995 e 1999. Mas, seguindo uma tendência geral, as carreiras de barco diminuíram de frequência, embora se fizessem em melhores condições. Pelo contrário, a nível local, estreitaram-se e aperfeiçoaram-se muito as ligações por meio de lanchas com a vizinha ilha das Flores. Além de tudo o mais, isto permitiu colher benefícios indirectos da construção do aeroporto das Flores, encetada em 1964; a inauguração fez-se quatro anos depois e, em 1975, foram estabelecidas carreiras aéreas regulares através da SATA (Sociedade Açoriana de Transportes Aéreos). Na realidade, nos tempos actuais, são as ligações por avião que se impõem em toda a parte. Assim, em 1977, iniciavam-se as obras da pista do Corvo, situada na parte oeste da plataforma meridional, com prejuízo de algumas das poucas terras aráveis, mas aproveitando a única área onde a topografia é propícia. Com 850 m, a pista foi inaugurada em 1983, e em Abril de 1985 tiveram começo ligações regulares com a Terceira, asseguradas por um «Aviocar» da Força Aérea Portuguesa. Depois de melhoramentos na pista, a SATA passou a servir o Corvo, utilizando um bimotor «Dornier», com 18 lugares. A teia de relações assim aberta trouxe novas perspectivas às condições de vida da população e rompeu os laços apertados das estruturas económicas de subsistência que se tinham imposto.

Ao mesmo tempo, modificou-se o regime de utilização do baldio que, em 1970, segundo os princípios gerais do «Estado Novo» (neste caso, pouco tempo antes da queda do regime), passou a ser administrado pelos Serviços Florestais. Os pastos foram em muitos locais melhorados, o que permitiu o incremento da criação de gado bovino: mas a população ficou a pagar licenças de apascentação, o que ia contra os seus hábitos ancestrais de utilização do baldio. Esta cláusula foi suprimida com o 25 de Abril de 1974, mas seguiu-se uma situação confusa, que só algum tempo depois foi regularizada, sendo o baldio plenamente devolvido aos habitantes. A criação de gado bovino desenvolveu-se de facto notavelmente. Em 1977, o número de cabeças era já de 950; passou depois para mais de 1000. Tanto em 1989, como em 1990, o número de animais exportados foi de cerca de 350, fixando-se em pouco menos de 300 em 1995. A manteiga, outrora exportada, deixou de fabricar-se. Mas continuou a produzir-se artesanalmente queijo, tendo havido até o projecto de se industrializar essa produção. As ovelhas e as cabras extinguiram-se rapidamente. As primeiras, ainda tão abundantes nos anos 1960, eram apenas 30 em 1977.

A área cultivada diminuiu substancialmente. Deixou de se cultivar o trigo e passou a importar-se farinha. Mas com isto o consumo de pão de trigo generalizou-se, embora se tivesse continuado a fazer algum pão de milho (aquele que todos utilizavam, ainda em 1970) ou de mistura. A área ocupada pelo milho reduziu-se muito. Foi calculada em 45 ha em 1967-71, não iria além de 25 ha em 1986 e fixou-se abaixo dos 20 ha em 1991.

Verificou-se assim uma especialização do Corvo na pecuária (gado bovino), seguindo afinal a tendência da Região Autónoma dos Açores. Para além do capital obtido nas transacções, os criadores beneficiam de subsídios comunitários diversos, a que têm direito, e que são bem relevantes nos orçamentos familiares.

A povoação da ilha, a vila do Corvo, com esta categoria devido às suas funções administrativas de sede de concelho, também se modificou. Cresceu um tanto, caiaram-se muitas das casas (antes, em grande número, com paredes de pedra), retocaram-se algumas ruas. Com a presença do aeroporto, o aperfeiçoamento da administração, o declínio da agricultura, alargou-se consideravelmente o sector dos serviços na população activa. A propriedade rústica está muito dividida e parcelada, ainda que menos do que anteriormente.

Assim, a geografia humana do Corvo conheceu grandes transformações a partir do começo dos anos 1970. O alargamento decisivo da rede de relações com o exterior constituiu o principal factor dessas transformações. As pessoas deslocam-se agora com facilidade para fora da sua ilha, muitas do exterior vão visitá-la. O número de passageiros embarcados no aeroporto do Corvo foi de 997 em 1993 e de 1147 em 1995, o de desembarcados cifrou-se em 949 e 1154. A maneira de viver mudou. A generalidade das casas tem equipamentos electrodomésticos variados, os velhos carros de bois desapareceram, surgiram dezenas de viaturas, para além das motocultivadoras e das motorizadas, os modernos meios de comunicação social, designadamente a televisão, estão ao alcance de todos. Mas o nível de vida dos habitantes não se pode entender, sem se tomarem em conta as remessas dos emigrantes e os fundos europeus que são transferidos. Carlos Alberto Medeiros (Abr.2001)

HISTÓRIA A ilha despovoada ? Diz a tradição historiográfica nacional que tudo começou em 1450, data oficial da descoberta das ilhas das Flores e Corvo por Diogo de Teive. Na perspectiva mais abrangente da história da civilização ocidental, diversos documentos, literários e cartográficos, do imaginário geográfico medieval e até renascentista, associam com frequência esta pequena ilha aos primórdios da história das navegações oceânicas para lá das Colunas de Hércules, em direcção ao sol posto. Desde meados do século XIV (Libro del conoscimiento, circa 1350) que nos aparecem referências na literatura de viagens a uma isola di corvi marini e, na linguagem cartográfica dos mapas catalães e italianos, a forma como ela é sempre representada, quer na sua relação de proximidade com outra maior (Flores), quer no distanciamento e marginalidade de ambas relativamente às restantes parcelas do arquipélago, traduz já uma visão bastante aproximada da realidade. O Corvo, ainda antes do seu descobrimento ?oficial?, já apresenta pois indícios claros do seu reconhecimento nos atlas e roteiros náuticos dos séculos XIV-XV e, curiosamente, é das poucas ilhas do arquipélago açoriano cujo nome, mesmo após o processo de ocupação e povoamento português, se manteve fiel à designação toponímica (corvi marini ) pela qual já era conhecida na cartografia italiana e catalã tardo medieval.

Parece, portanto, necessário distinguir duas fases nos primórdios da história da ilha do Corvo: a do reconhecimento-descobrimento (séculos XIV-XV), e a do seu efectivo povoamento (século XVI). Esta nuance procura valorizar a importância histórica de algumas ilhas, enquanto bóias e marcos de referência no contexto da navegação atlântica, independentemente do facto de elas se encontrarem, ou não, povoadas. Por outras palavras, a história das ilhas não é (ou não deve ser) apenas a história das sociedades insulares, perspectiva essa que se afigura particularmente válida para o caso do Corvo, cujo processo de povoamento (dirigido por João e Pedro da Fonseca entre 1510 e 1550) assinala tão somente um ponto de viragem (e não o começo) da história desta ilha.

A posição marginal e extrema que o Corvo e as Flores ocupam no contexto arquipelágico açoriano, explica em parte o carácter tardio do seu povoamento e, mais importante ainda, ajuda a compreender a identidade própria destas duas ilhas que, no último quartel do século XV, eram consideradas como um arquipélago (yslas das flores) distinto do dos Açores, sendo como tal designadas no texto da Paz de Alcáçovas, firmada entre D. Afonso V e os Reis Católicos em 1479. Embora despovoadas, as ilhas não deixam por isso de figurar ao mais alto nível da diplomacia ultramarina luso-castelhana e, nessa mesma medida, é inquestionável a sua importância enquanto zona de fronteira no contexto da navegação atlântica quatrocentista, sobretudo aquela que, na última metade do século, aposta na exploração em profundidade das rotas para poente. Assim, não deixa de ser significativo que tanto o descobridor das ilhas do grupo ocidental, Diogo de Teive (1450), como o seu segundo senhor, Fernão Telles de Meneses (1475), fossem homens que, pelo menos ao nível da documentação régia, apareceram associados a viagens exploratórias no Atlântico ocidental em demanda das míticas ilhas de Antilia, ou das Sete Cidades. Quando D. Afonso V confirmou a Fernão Telles de Meneses a compra das ilhas das Flores a João de Teive, fez-lhe ainda mercê na mesma carta das Sete Cidades e de quaisquer outras ilhas que ele achar ?não sendo tais ilhas na parte da Guiné?. A coroa portuguesa, exclusivamente preocupada com o monopólio da navegação para sul ao longo da costa africana, deixou aos particulares a iniciativa destas empresas aventureiras rumo a ocidente, as quais configuravam já a futura rota do descobrimento da inconcebível América, por Cristóvão Colombo, em 1492.

Testemunho eloquentemente simbólico da posição ocupada pela ilha do Corvo no quadro imaginário das navegações atlânticas pré-colombinas, é a célebre estátua equestre de que Damião de Góis, na sua Cronica do Principe D. João (1567), dá uma circunstanciada notícia. Segundo este cronista, o rei D. Manuel teria enviado ao Corvo o seu criado debuxador Duarte Darmas com a incumbência de desenhar a estátua e, mais tarde, em 1529, Pedro da Fonseca, senhor da ilha, mandou gravar num molde de cera os caracteres que se encontravam gravados no plinto da mesma, os quais, na opinião de Góis, eram rúnicos e, portanto, só poderiam ser um testemunho inequívoco da passagem, em tempos alto-medievais, de navegadores escandinavos pela ilha do Corvo. Sem pretender discutir a existência objectiva da estátua e tomando-a apenas tal como ela é representada, ou seja, enquanto construção literária quinhentista, não deixa de ser sugestivo o enquadramento geográfico a que se encontra associada a sua descrição: na ilha mais remota e minúscula dos Açores, um cavaleiro cujo braço e dedo apontam para poente, indica aos futuros Colombos a rota certa para, mais além, se atingir terra firme. O que é certo é que, seja por via da alegada descoberta quinhentista desta antigualha escandinava, seja devido ao intrigante achado de algumas moedas cartaginesas e cirenaicas (datadas do séculos IV-III A.C.) nesta ilha em 1749 (e do qual o numismata sueco Johan Frans Podolyn publica, nas Memórias da Sociedade de Gotemburgo, uma pequena notícia em 1778), o Corvo é, de todas as ilhas dos Açores, a única que nos aparece associada ao imaginário das navegações oceânicas na Antiguidade e Alta Idade Média.

O povoamento e as viagens de retorno ? A historiografia insular, do século XVI até à actualidade, sempre teve a preocupação clássica (quase que se diria bíblica) de responder à pergunta: quem foi o primeiro povoador? Ora, em matéria de povoamento, pelo menos no caso do Corvo, é sem dúvida mais importante saber o porquê, do que revolver as fontes à procura do quem. Em primeiro lugar, cabe de novo recordar o facto de as ilhas terem valor em si mesmas como bóias e escalas naturais de apoio à navegação, independentemente dos factores económicos que determinaram a sua ocupação e exploração sistemática por parte de um núcleo fixo de habitantes.

Frutuoso (1984: 31) resume esta ideia nas seguintes palavras: «prestam [as ilhas dos Açores] neste grande mar postas, como vendas ou fontes, poços e ribeiras em compridos e despovoados caminhos nalgum deserto, para escala e aguada dos cansados mareantes [...] E se ainda para isto nada aproveitassem as ilhas [...] pelo menos serviriam aos navegantes de sinais e balizas de seus caminhos, como se viu no ilhéu do Corvo».

Entre o primeiro acto escrito que integra a ilha do Corvo no plano formal da soberania portuguesa (a carta de doação de D. Afonso V ao Duque de Bragança, de 20.1.1453) e o início do seu povoamento na segunda década do século XVI (Valentim Fernandes, em 1507, na sua Descrição das Ilhas Atlânticas , ainda a dá como deserta de gentes), decorre mais de meio século. Compreende-se este hiato, atendendo ao afastamento do pequeno ilhéu e ao seu carácter montanhoso e forte exposição à ventania marítima (tornando pouco convidativa qualquer actividade agrícola e, logo, a fixação humana), mas ele apenas se torna cabalmente explicável quando procuramos interpretar a dinâmica do povoamento açoriano em função do mar, e não da terra. É que nos Açores, tanto o ritmo como o (sentido nascente-poente) em que decorre o seu povoamento, parecem estar fortemente determinados pela integração sucessiva das diversas parcelas insulares nas rotas inter-regionais e intercontinentais da navegação atlântica. Quando esta, em meados do século XV, se circunscrevia à zona mauritana e guineense, apenas as ilhas do grupo oriental (S. Maria e S. Miguel) estavam efectivamente ocupadas por muito pouca gente, alguma da qual degredada do reino. Já entrando no último quartel de Quatrocentos, quando as caravelas avançavam para sul e a rota da Mina e do Congo se começava a desenhar, foi a vez das ilhas do grupo central (Terceira, S. Jorge, Pico, Faial e Graciosa) conhecerem o arranque e consolidação do seu povoamento, em que se encontravam envolvidos um número significativo de flamengos. E só a partir da primeira década do século XVI, quando as viagens às Índias Orientais e Ocidentais passaram de exploratórias a regulares, é que no grupo ocidental (Flores e Corvo) se estabeleceria uma comunidade insular em termos definitivos.

Torna-se portanto claro que o povoamento do Corvo arrancou na primeira metade do século XVI, reinados de D. Manuel e D. João III, quando as viagens de retorno das naus da Mina e da Índia começaram a pôr em evidência a presença incontornável do ilhéu como marco sinalizador da derrota marítima. Os corsários franceses, primeiros a demandarem estas paragens, compreenderam rapidamente essa importância e aí emboscaram algumas naus da Índia no seu regresso ao reino, ainda nas décadas de 1520-30. Adaptando ao Corvo aquilo que Vitorino Magalhães Godinho judiciosamente disse dos Açores, poderemos afirmar que esta ilha era «o ponto de encontro (e passagem) de todos os regressos». D. João III depressa se deu conta desta evidência, e criou em 1527 a Provedoria das Armadas da ilha Terceira, cujo objectivo era esperar no Corvo as naus da Índia, para daí as escoltar até Angra e depois Lisboa. Segundo Ferreira (1983: 290), «este facto, longe de afastar o caçador, constitui um pólo de atracção: só se guarda, na verdade, o que é precioso. Entramos, assim, numa espiral, onde parece ser perceptível a escalada entre os antagonistas [...e] esta tensão encontra-se localizada no grupo ocidental do arquipélago, o ponto nevrálgico da defesa». Ver corso.

É neste contexto que devemos enquadrar o início da fixação humana no Corvo, pois, permanecendo desabitado, o ilhéu tornava-se base apetecível para os corsários normandos e bretões aí fazerem os seus refrescos e aguadas. Segundo as fontes cronísticas açorianas, que não são unânimes nem claras neste particular, os primeiros povoadores da ilha do Corvo teriam sido trazidos por Antão Vaz, da vila da Praia na ilha Terceira, mas há também referências aos escravos lá largados pelos senhores das Flores e Corvo no século XVI, os Fonsecas, de Évora, que numa demanda judicial movida pela viúva de Gonçalo de Sousa Fonseca contra o Conde de Santa Cruz, em 1600, aparecem claramente identificados como os responsáveis pelo povoamento e benfeitorias realizadas na pequena ilha ao longo da centúria quinhentista. O relato de Frutuoso no Livro Sexto das Saudades da Terra (1978: 347-353), é basicamente coincidente com esta ideia, ao contrário de Diogo das Chagas no seu Espelho Cristalino (1989: 561-569), que atribui um protagonismo decisivo neste processo a Antão Vaz, o qual teria chegado a residir no ilhéu por alguns anos, sem contudo nele fundar povoação, retirando-se depois desiludido para a Terceira «e fez boa e barata venda da pequena Ilhota, ou Ilheo, a Gonçalo de Sousa, que logo mandou para ela seus escravos». Numa coisa, contudo, são todas as fontes unânimes: o primeiro núcleo estável de população no Corvo, era constituído por escravos mulatos, provavelmente vindos de Cabo Verde, onde os Fonsecas também eram senhores da ilha de Santo Antão. Ora, este modelo de povoamento seguido no Corvo é de uma assinalável excentricidade relativamente aos padrões seguidos no resto do arquipélago, e isto porque, dado o seu carácter tardio, se apresenta já solidário com o tipo de sociedades insulares assentes na economia esclavagista que, desde finais do século XV, emergem em Cabo Verde e depois em S. Tomé e Príncipe.

A descrição que Frutuoso nos faz (composta já no período da dominação filipina, em data nunca anterior a 1587) desta primeira comunidade corvina, transmite-nos a imagem de uma ilha-prisão onde foram largados casais de escravos para pastorearem os gados do senhor, os quais vão arroteando a terra e praticando uma economia recolectora e de subsistência. Desprovidos de qualquer embarcação própria, viviam isolados e dependentes dos batéis que viessem das Flores, ou do que mais o mar lhes trouxesse. Não raras vezes chegavam pelo mar inesperados visitantes ao ilhéu, designadamente corsários de variadas proveniências. Estes tanto estabeleciam com os locais relações de troca e cumplicidade (aí fazendo refresco e aguada, ou até mesmo enterrando nas casas dos moradores os seus pequenos ?tesouros?, caso de uns corsários franceses em 1549), como podiam praticar devastações que comprometiam até o próprio povoamento da ilha (de que é exemplo o ataque dos ingleses ao Corvo em 1587, que incendiaram a ermida, moinho, granel e as poucas casas palhaças que até então aí existiam). Este último acontecimento, aliás, teve uma importância significativa pois, por um lado, pôs em evidência a fragilidade da ocupação humana perante um ataque desta natureza e, por outro, determinou um reforço do povoamento, protagonizado por uma segunda vaga de homens vindos da vizinha Flores na transição dos séculos XVI-XVII. De facto, só com progressiva fixação no Corvo de florentinos (filhos e netos dos primeiros povoadores), se pode verdadeiramente falar de consolidação e crescimento da população corvina, momento esse que corresponde, segundo o testemunho de Diogo das Chagas, ao início do aproveitamento das terras altas (c. 1590-1600), a que devemos igualmente associar, um pouco mais tarde, as diligências feitas pela diocese de Angra (bispo D. Jerónimo Teixeira Cabral, 1600-1612) para que os moradores do Corvo fossem providos de um pároco residente, na Igreja de Nossa Senhora do Rosário.

A ilha e os seus pastores: a paróquia de Nossa Senhora do Rosário ? Entre as primeiras tentativas de povoamento e a data em que se estabelece permanentemente no Corvo um representante do poder eclesiástico para zelar pelas almas do rebanho cristão, decorrem à volta de cem anos. Ou seja, durante esse período que, curiosamente, corresponde à centúria mais prenhe de acontecimentos no que respeita às actividades corsárias na chamada paragem do Corvo, os moradores do ilhéu viveram na mais completa e literal autarcia insular. Poderíamos caracterizar os primeiros corvinos como uma comunidade de rústicos cuja existência pagã apenas era quebrada uma vez por ano, quando o vigário de Santa Cruz das Flores lá se deslocava para lhes ministrar os sacramentos cristãos. Por outro lado, o distanciamento dos donatários relativamente a este seu remoto senhorio, cuja presença apenas se fazia indirectamente sentir pelo peso da renda (em trigo e lã) cobrada aos seus moradores, reforçou ainda mais a marginalidade política desta peculiar sociedade insular. Depois de haver passado por diversas mãos (Braganças, Teives, Telles de Meneses, Fonsecas) o senhorio do ilhéu estabilizou, em finais do século XVI, na família dos Mascarenhas, quando D. Filipe I, por carta régia de 17.9.1593, conferiu a D. Francisco de Mascarenhas o título de conde da vila de Santa Cruz e senhor das Flores e Corvo.

A proverbial indiferença dos senhores desta casa pelos habitantes da ilha está bem patente na sua renitência inicial em assumir o encargo (seis moios e três quarteiros de trigo) do mantimento de um pároco no Corvo. Quando o bispo de Angra, D. Jerónimo, alertou o conde de Santa Cruz para essa necessidade, «pois aquela gente ali estava cultivando sua ilha», este respondeu-lhe «que não queria a sua ilha povoada, e que os mandasse ir para outra ilha, e que a ilha ficasse deserta a seus gados» (Chagas, 1989: 565). Face ao desdém do titular, foram os próprios moradores que se prontificaram a pagar a côngrua do pároco, testemunhando, assim, que as poucas almas de confissão estabelecidas no povoado do Porto das Casas eram tementes a Deus e queriam zelar pelo seu sustento espiritual. O primeiro vigário da paróquia de Nossa Senhora do Rosário foi Bartolomeu Tristão, do Faial, e o segundo, em data anterior a 1613, foi Inácio *Coelho, das Flores, irmão do cronista Diogo das Chagas. Este pároco florentino teve, a diversos títulos, uma importância decisiva na consolidação da nova paróquia, não só porque intercedeu junto do 2º conde de Santa Cruz, D. Martinho de Mascarenhas, para que garantisse daí em diante o mantimento dos futuros vigários do Corvo, como também porque a ele se deve a presumível redacção e divulgação de um curioso texto (Relação breve da grande e maravilhosa vitoria que Deus Nosso Senhor foi servido dar aos moradores da Ilha do Corvo contra dez poderosas Naos de Turcos, que a ela forão para a roubar e cativar, Lisboa, Of. de Matheus Pinheiro, 1632) que, entre outros objectivos, procura consagrar simbolicamente a criação da paróquia, atribuindo à Virgem o milagre da vitória dos corvinos sobre os piratas infiéis. Acontecimento extraordinário com um significado quase fundacional, esta manifestação da protecção divina sobre os abandonados corvinos, para além de sublinhar a sua inalianável dignidade cristã, confere-lhes ainda a referência simbólica de uma padroeira, Nossa Senhora dos Milagres, com raízes históricas locais.

Conquistada a autonomia paroquial do Corvo, na transição do primeiro para o segundo quartel do século XVII, virou-se outra página decisiva na história da ilha, pois com o estabelecimento de um pároco residente, representante da cultura letrada e da organização institucional eclesiástica, os corvinos deixaram de ser uma sociedade envolta em silêncio e passaram a dispôr de alguém que, quanto mais não fosse ao nível dos assentos paroquiais de baptismo, casamento e óbito, redigia a crónica elementar da sua existência. Até ao advento da autonomia autárquica, com a criação do concelho da Vila do Corvo em 1832, a unidade orgânica em torno da qual se organizou o colectivo e a memória escrita dos corvinos foi a igreja e paróquia de Nossa Senhora do Rosário. Infelizmente, um incêndio ocorrido na igreja na década de 1960, destruiu parte dessa memória, de que se salvaram, contudo, os preciosos registos paroquiais (iniciados em 1640), que já então se encontravam à guarda da Repartição de Finanças e da Conservatória do Registo Civil e Predial da Vila do Corvo, e que estão hoje depositados na Biblioteca Pública e Arquivo Distrital da Horta. No entanto, se excluirmos estes registos paroquiais e outros documentos (do último quartel do século XIX em diante) existentes no arquivo da Câmara Municipal, o Corvo não possui quaisquer fontes escritas locais acerca do seu passado. Apesar de não escassearem os testemunhos historiográficos e literários sobre a ilha, de Gaspar Frutuoso a Raul Brandão todos os que escreveram acerca desta comunidade insular eram-lhe completamente estranhos e, portanto, a imagem que dela nos transmitem encontra-se marcada pelo sentimento da alteridade e não pelo da identidade. Este condicionalismo, combinado com as importantes lacunas existentes ao nível da documentação local, coloca-nos perante o problema de ter que estudar uma sociedade sem escrita própria. Não obstante a fatalidade ocorrida no arquivo paroquial, registe-se a importantíssima função estruturante desempenhada por sucessivas gerações de vigários, párocos e curas que não só davam voz aos corvinos nas suas representações dirigidas à Câmara de Santa Cruz das Flores e à Coroa, como tombavam por escrito num velho breviário existente na Igreja todos os acontecimentos extraordinários que, de 1630 em diante, perturbaram o quotidiano da população local (naufrágios, catástrofes naturais, relações com corsários, ataques de piratas, etc.).

O peso da renda e o crescimento populacional ? Para além da Igreja, outro factor importante condicionava a existência dos corvinos: as rendas e os foros devidos à casa dos Mascarenhas (já no século XVIII elevados aos títulos de marqueses de Gouveia e duques de Aveiro), que importavam em 40 moios de trigo e 800 varas de pano de lã. Desde logo esta renda condicionava a paisagem agrária e o sistema económico da ilha, impondo a pastorícia de ovinos nas terras altas e o cultivo do trigo nas terras chãs (próximas do único povoado existente). Vemos assim desenhar-se uma comunidade que, de costas voltadas para o mar e para a pesca, dada a inexistência de embarcações próprias que viabilizassem esta actividade, apresenta características marcantemente agro-pastoris, cujas consequências erosivas ao nível do limitado coberto lenhoso da ilha se farão rapidamente sentir. Pouco se sabe sobre a evolução demográfica do Corvo até meados do século XVIII, período em que a sua população rondava os 500 habitantes, mas, como é bem de ver, o crescimento das gentes e o não-desagravamento da renda que tinham de pagar, começou a levantar o problema da sustentabilidade económica dos corvinos num território que, com o andar dos anos e da ocupação humana, se ia tornando cada vez mais pequeno e limitado.

Efectivamente, uma vez satisfeita a renda, pouco mais restava do que o essencial para os habitantes do Corvo sobreviverem, e disso mesmo nos dá conta uma moratória apresentada em nome destes pelo pároco local, António Coelho de Mendonça, à Câmara de Santa Cruz das Flores em 1768: nela pediam ao Rei que os aliviasse do «gravamen intoleravel de pagarem a avença [?] hoje à Coroa e antigamente ao infame donatario que foi destas Ilhas», caso contrário transmitiram-lhe a firme «rezolução em que estão de passarem todos a algum dos seus dominios da America, aonde com o seu trabalho melhor possam viver». Nesse mesmo ano de 1768, a população do Corvo já tinha atingido a cifra de 711, caindo nos dois anos seguintes para 667, segundo estimativas de Madeira (1998: 386). Esta súbita quebra demográfica traduziu-se num surto pontual de emigração para o Brasil, ou, pelo contrário, não ultrapassou os limites de um curto movimento migratório para Santa Cruz das Flores? Seja como for, aparece-nos aqui o primeiro indício de que o Corvo começava a atingir um ponto de saturação, e de que os seus habitantes tinham o ilhéu na conta «da mais miseravel terra do mundo». Não obstante isto, bem como o facto da Coroa (após a confiscação dos bens do duque de Aveiro em 1759) ter mantido o valor da odiosa renda, que D. João VI aforou depois a Pedro José Caupers durante três vidas em 1815, a população retomou a sua tendência para o crescimento e no dealbar do século, em 1796, já ultrapassara o patamar dos 800 habitantes.

A pressão demográfica, combinada com a dos tributos, resultou necessariamente na fome, cujas consequências dramáticas iam sendo iludidas pelo engenho dos corvinos, os quais faziam da junça o seu sustento, moendo a raiz/tubérculo da planta numa grosseira farinha que depois transformavam no seu ?pão nosso de cada dia?. Ironicamente, o cultivo e transformação desta planta, que é um autêntico símbolo do drama sócio-económico vivido pelos moradores do Corvo, foi alvo da curiosidade inspirada pelo programa reformista e industrialista da administração pombalina nos Açores, conforme atesta o relatório enviado em 1801 pelo 3º capitão-general dos Açores, D. José Maria de Almada, ao Secretário de Estado da Marinha, D. Rodrigo Sousa Coutinho, ilustre colaborador das Memórias Económicas da Academia das Ciências : «remeto a V. Exª ... o Grão da Junça, e inclusa achará a relação do uso que se faz della o modo da sua cultura, e qual hé o terreno mais proprio para a sua produção. Este Grão tambem o ha nesta [Terceira], e nas mais ilhas e só os habitantes do Corvo usão da farinha desta raiz em pão, ou bollos, como se especifica no mesmo extracto» (Arquivo dos Açores, 1920: 515-16). Talvez o relator não tivesse presente que, anos antes, em 1768, seu próprio pai, D. Antão de Almada, 1º governador e capitão-general dos Açores, no ofício que acompanhava o envio da (já citada) representação da Câmara de Santa Cruz das Flores em prol dos corvinos, denunciava também ele as condições insustentáveis de vida no ilhéu, nos seguintes termos: «onde todo o (trabalho) do ano não basta para cultivar o trigo com que pagam a avença; vendo-se por isso precisados a andarem nus (e) comerem junças» (Arquivo dos Açores, 1884:18).

É esta a imagem dominante que se tem do Corvo nos finais do Antigo Regime: a de uma comunidade tão miserável quanto honrada, que come pão negro para entregar o branco ao senhor da ilha, ou aos seus arrendatários. Daí que alguns ardentes liberais do vintismo açoriano não hesitem em classificar a situação dos corvinos de ?opróbio da humanidade?, como sucede com João Soares d?Albergaria de Sousa que, em 1822, a finalizar as linhas dedicadas ao Corvo na sua Corografia Açórica, diz o seguinte: «Nós duvidamos que as colónias de Marrocos, dos Argelinos, e desses outros povos que denominamos bárbaros, vivam mais escravizadas» (Sousa, 1995: 133). Poucos anos antes, por volta de 1815, um padre das Flores, José António Camões, numa interessante memória que redigiu sobre a sua ilha natal e que, infelizmente, chegou até nós truncada na parte relativa ao Corvo, não hesitou em apresentar o ilhéu como «o lugar mais triste, mais pobre, e mais miseravel de todo o Universo» (Leite: s.d.). O Corvo seria, porventura, a terra portuguesa que melhor se prestava à retórica da liberdade e da justiça, restando agora analisar a amplitude da ?revolução?, conforme a designa Carlos Alberto Medeiros (Medeiros, 1987: 60-63), que em 1832 a implantação do Liberalismo e os decretos de Mouzinho da Silveira trouxeram a esta pequena sociedade. Ver Corvo, concelho do. Carlos Guilherme Riley (2002)

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