Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Corte-Real, António Moniz Barreto

 [N. Angra, 8.12.1804 ? m. Ibid., 23.9.1888] É uma das mais interessantes e celebradas figuras da intelectualidade açoriana da primeira metade do século XIX, pedagogo, escritor e árbitro de elegâncias literárias. A imagem que hoje temos dele é muito aquela que foi transmitida pelos seus discípulos, inevitavelmente laudatória, mas tarda um exame crítico da sua obra.

Bacharel em Cânones pela Universidade de Coimbra, em 1831, nesse mesmo ano e na cidade do Mondego, publicou a sua mais célebre obra literária, Belezas de Coimbra, um livro de prosa romântica de descrição de monumentos e paisagens da urbe. Manteve-se sempre na literatura como um conservador, mas um apaixonado pela língua portuguesa, que estudou e defendeu denodadamente.

Foi nomeado logo de seguida professor, por concurso, na cidade de Évora (Aritmética, Geometria, Geografia e Cronologia). Em 1834 regressou a Angra como advogado, sendo nomeado director e revisor da imprensa da prefeitura e redactor da Crónica Constitucional de Angra, mas pediu a demissão no ano seguinte. Nesses tempos agitados pela política, que nunca o atraíu verdadeiramente, foi chamado pelos cartistas para moderar a polémica com os adversários reformistas, que havia dilacerado a Terceira. Dirigiu então, com Jerónimo Emiliano de *Andrade, o *Anunciador da Terceira (1842-43), dando-lhe uma feição já mais literária. Aí publicou um celebrado estudo sobre as festas do Espírito Santo que fez dele o precursor da etnografia açoriana. Nunca mais deixou de ser colaborador e redactor de jornais, quase sempre de cariz literário, sucessivamente o Pregoeiro (1843), o Terceirense (1844-45) e principalmente o Lyceo (1855-56), que fundou e onde publicou boa parte da sua obra de pedagogo.

Em 1847 foi nomeado professor do liceu de Angra do Heroísmo (Matemática e Filosofia), para no ano seguinte ser o 2º reitor daquele estabelecimento e comissário dos estudos. Estava encontrada a sua vocação, tendo exercido uma notável missão de pedagogo, com os compêndios, gramática e orientações aos professores de Português e Latim. Nestas áreas era um erudito, como latinista e helenista. Contudo, em 1883, quando foi demitido, demissão polémica, do cargo de reitor, estava em conflito aberto com o corpo docente e a qualidade das suas aulas sofria graves críticas. Era o preço da longevidade.

Como cidadão, exerceu cargos na administração, sendo juiz de Direito substituto, vereador da Câmara, membro da Junta Geral e do Conselho de Distrito.

A sua longa e dispersa bibliografia pode ser consultada no Dicionário de Inocêncio (Silva, 1973) e na Bibliografia Geral dos Açores, de João Afonso (1985). J. G. Reis Leite (Mar.2001)

Obras principais (1831), Bellezas de Coimbra. Coimbra, Real Imp. da Universidade. (1842), Uma festa do Espírito Santo. Anunciador da Terceira, 5-12. (1857), Cartilha para uso das escolas do distrito de Angra do Heroísmo. Selecta em verso. Angra do Heroísmo, Tip. M. J. P. Leal. (1859), Epítome de Gramática Portuguesa, Angra do Heroísmo, Tip. M. J. P. Leal. (1860), Selecta Classica acomodada ao uso das escolas do Distrito de Angra do Heroísmo. Angra do Heroísmo, Tip. M. J. P. Leal. (1862-65), Circular aos professores sobre o ensino do português e latim. Boletim Official do Distrito Administrativo de Angra do Heroísmo. (1877), Proposta de reforma ortográfica submetida à Academia Real das Ciências de Lisboa e vários aplausos. Angra do Heroísmo, Tip. Angrense.

 

Bibl. Afonso, J. (1985), Bibliografia Geral dos Açores. Angra do Heroísmo, Secretaria Regional de Educação e Cultura, II: 366 e segs. Canto, E. (1890), Bibliotheca Açoriana. Ponta Delgada, Typ. do Archivo dos Açores, I: 27. Pinheiro, J. J. (1985), Introdução da imprensa nos Açores. Arquivo dos Açores. 2ª ed., Ponta Delgada, VIII: 485 e segs. Ribeiro, A. (1903), Dr. António Moniz Barreto Corte-Real. Album Açoriano. Lisboa, Ed. Oliveira e Baptista: 409-411. Silva, I. F. (1973), Diccionario Bibliographico Portuguez. 2ª ed., Lisboa, Imp. Nacional, I: 207, VIII: 255, XXII: 323, app.: 47 [?Dicionário de Inocêncio?].