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Chaves, Margarida de (Venerável)

[N. Ponta Delgada, 1530 - m. Ibid., 8.9.1575] Religiosa do séc. XVI. Filha de Afonso Anes de Chaves e de Madalena Fernandes, nutriu, desde menina, o desejo de abraçar a vida religiosa, mas a vontade paterna decidiu-lhe o casamento, aos 14 anos, com António Jorge Correia, nobre e rico portuense, de quem teve 4 filhos. A todos destinou à vida religiosa, com excepção do primeiro, Pedro, que faleceu muito jovem. A única filha, Maria Correia, professou com o nome de Maria da Trindade. Falecido o marido em 1556, viúva aos 26 anos e herdeira de considerável fortuna, M. de Chaves envergou o hábito franciscano e abraçou a vida da penitência, sem nunca professar, vindo a testar a favor dos pobres do Hospital da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada. Teve por confessores os padres Braz Soares e Gaspar Frutuoso, os primeiros que atestam a qualificada virtude de seus actos pios e a altíssima reputação de santidade a que se elevou. Operou em vida curas milagrosas, que continuaram a manifestar-se depois da morte por via das relíquias ou da água benta tocada nos seus ossos. D. Pedro de Castilho, bispo de Angra, por petição do jesuíta pe. Francisco de Araújo, mandou tirar, em 11.1.1581, a primeira informação jurídica dos milagres, à qual outra se seguiu, a pedido do pe. Manuel Jorge Correia, filho de M. de Chaves, já no início do bispado de D. Manuel Gouveia (1584-1596), o qual ordenou que se fizesse comissão nas pessoas do Ouvidor Eclesiástico da Ilha de S. Miguel, Bernardo Leite de Sequeira, e Doutor Gaspar Frutuoso. O relatório, concluído a 12.12.1585, foi presente pelo Bispo a uma junta de exame formada por teólogos de diferentes conventos das ilhas, que reunida nos paços episcopais a 13.03.1586, unanimemente recomendou a beatificação ou canonização daquela que o povo tinha por Santa. Esta sentença, redigida a 27.3.1586, foi presente ao Papa Sisto V. Iniciado o processo, no qual se empenharam os jesuítas, o citado Manuel Jorge Correia e seu irmão, Pe. Gonçalo Correia, a Santa Sé concedeu a M. de Chaves o título de Venerável. O processo, que parece ter-se arrastado até ao pontificado de Paulo V (1605-1621), interrompeu-se com a morte dos filhos. Encontra-se sepultada na Igreja Matriz de S. Sebastião. Manuel Cândido Pimentel (Mar.2002)

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