Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Canto, Violante do

 [N. ?, 1556 ? m. ?, 17.11.1599] Filha de João da Silva do *Canto e de Isabel Correia. Neta pelo lado paterno de Pero Anes do *Canto e Violante da Silva, e pelo lado materno de Jácome Dias Correia e Brites (Beatriz) Rodrigues Raposo, de S. Miguel. Destacou-se na ilha Terceira pelo apoio inequívoco que deu ao partido de D. António Prior do Crato, contra as pretensões de Filipe II de Espanha. São bem conhecidas as suas acções nesse âmbito, como as visitas a sua casa do pretendente português (aclamado rei) ao trono, o sustento das tropas inglesas e francesas estacionadas na Terceira e a oferta de apoio monetário à causa. Por isso mesmo em 1583, destruídas as ambições de D. António e segundo Frutuoso, foi levada a Castela rodeada de considerável ?corte? e encerrada em dois mosteiros, em Cadiz e Jaem (onde terá estado sete e onze meses, respectivamente). Por iniciativa régia casou, cerca de dezanove/vinte meses depois de ter deixado a Terceira (a 1 de Abril de 1585), com Simão de Sousa de Távora, filho de Álvaro de Sousa de Távora e de Francisca de Moura (irmã de Cristóvão de Moura), tendo posteriormente voltado ao reino. Herdou, ainda muito jovem, a terça da mãe composta por bens móveis e prédios em S. Miguel. Com vinte um anos de idade, por tutores e curadores, a saber, Aires Jácome Correia (primo) e Gonçalo Vaz de Sousa (padrinho), sucedeu a seu pai na administração de todos os bens e do vínculo instituído por seu avô, Pero Anes do Canto. Depois do casamento sabemos ter havido uma causa entre seu marido e Aires Jácome Correia, primo e tutor de Violante, como atrás referimos. Motivo foram as contas da tutoria, o abandono a que seus bens estiveram votados na Terceira e mesmo o desaparecimento de alguns móveis e objectos. Por testamento do progenitor apercebemo-nos do desvelo da sua criação, o qual João da Silva do *Canto evoca deixando-lhe a incumbência de proteger, salvaguardar e garantir o dote de seu meio-irmão, António da Silva. Acompanhou-a também este seu irmão, supomos que mais jovem, na viagem para o seu exílio forçado. Igualmente por testamento, tanto paterno como materno, sabemo-la entregue, desde um ano de idade e em casa paterna, à criação e ensino de Simoa Monteira, que alguns dizem ter sido mãe de uma sua meia-irmã. Foi esta que a ensinou a ler, escrever, rezar, coser e todos os demais requisitos a uma jovem da sua condição. Possuídora então de cultura escrita e detentora de um empório patrimonial considerável, morreu contudo sem descendentes directos. Por sua morte, os bens vinculados de que fora administradora reverteram para a linha do herdeiro do tio (António Pires do *Canto) e na pessoa do filho de seu primo (Pedro de Castro do Canto), Manuel do Canto de *Castro. E a ocorrência não teve significado de pequena monta. Em primeiro lugar, constituiu como que a afirmação final da proeminência -que no fundo foi também uma questão de sobrevivência- do primeiro tronco sucessório de Pero Anes do Canto sobre o segundo. Dizemo-lo deste modo, com base nas discordâncias e disputas sobre os bens do avô (vinculados e não vinculados) entre seus progenitor e tio, mas também apoiados no facto da descendência deste último a ter acusado, e por medo de perda dos bens no quadro das lutas independentistas por ela protagonizadas, de perseguição e alguma responsabilidade na morte de seu primo-direito, Pedro de Castro do Canto, o sucessor directo da primeira linha e do primeiro vínculo de Pero Anes do Canto. Em segundo lugar, foi igualmente desta forma que dois dos morgadios instituídos pelo avô acabaram juntos e deram origem, segundo as crónicas, à «Caza maior das ilhas». Quanto aos restantes bens de Violante do Canto, e na esteira das acções de seu próprio pai, reverteu grande parte deles a favor da Casa da Misericórdia de Lisboa, da Companhia de Jesus de S. Roque da mesma cidade, da Cartuxa de Laveiras e dos Capuchos da Arrábida. Rute Dias Gregório (2002)

 

Bibl. Biblioteca Pública e Arquivo Regional (Ponta Delgada). Fundo Ernesto do Canto, Manuscritos da Casa de Miguel do Canto e Castro, vol. VIII, nº 224, vol. X, nº 262, vol. X, nº 280, vol. XIII, nº 366. Id., Provedoria dos Resíduos de Ponta Delgada, Autos de Prestação de Cartas de Instituições Vinculares e Legados Pios, maço nº 61, processo nº 535. Frutuoso, G. (1978), Livro Sexto das Saudades da Terra. 2ª edição, Ponta Delgada, Instituto Cultural de Ponta Delgada. Forjaz, J. P. (1978), O Solar de Nossa Senhora dos Remédios: História e Genealogia. Reconstituição erudita (histórica e genealógica) da família Canto e Castro. Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, XXXVI: 5-210. Lima, G. (1925), Figuras do século XVI: terceirenses ilustres. Angra do Heroísmo, Insulana Ed.: 91-101. Gregório, R. D. (2001), Pero Anes do Canto: um homem e um património (1473-1556). Ponta Delgada, Instituto Cultural de Ponta Delgada.