Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Bruges, Jácome de

Natural da Flandres, Jácome de Bruges terá chegado a Portugal pelos inícios do segundo quartel do século XV. Residiu no Porto cerca de vinte anos e esteve ao serviço do Infante D. Henrique. Casou com Sancha Dias de Toar, de quem teve descendência, nomeadamente uma filha por nome Antónia Dias, que casou no reino com Duarte Paim. Em 1450, Jácome de Bruges recebeu do Infante, donatário das ilhas açorianas, a carta de doação da capitania da Terceira, tornando-se assim o primeiro capitão desta ilha, com a incumbência de a governar em nome do seu senhor, dirigir localmente o povoamento e distribuir terras em regime de sesmaria pelos primitivos povoadores. Instalando-se na parte da Praia, parece ter exercido a sua jurisdição sem oposição inicial, mas, a partir de 1460, após a morte do Infante D. Henrique, Jácome de Bruges enfrentou vários problemas, que se prolongariam até à sua morte. À situação inicial, em que a Terceira constituía uma só capitania, sucedeu-se um cenário no qual a ilha se apresentava dividida em duas capitanias, uma com sede na Praia e outra com sede em Angra. Neste novo quadro, que não seria do agrado de Jácome de Bruges, este parece ter contado com a oposição de Álvaro Martins Homem, chegado à Terceira cerca de 1461 e responsável pela jurisdição de Angra, e de Diogo de Teive, que, vindo da Madeira, servia na Terceira como ouvidor do próprio Jácome de Bruges. As diferenças existentes entre eles levaram mesmo a Infanta D. Beatriz a ordenar que Afonso Gonçalves Antona, natural de Almeida e criado da casa daquela senhora, partisse para a Terceira, para tentar reconciliar Jácome de Bruges e Álvaro Martins Homem (Maldonado, 1997: 52-53). Jácome de Bruges morreu cerca de 1470-1472, em circunstâncias ainda por explicar. As fontes apresentam diversas possibilidades, referindo que, indo o capitão ao reino buscar a mulher e uma filha, ou a caminho da Flandres, onde pretendia reclamar uma herança, a caravela em que viajava naufragou. Há quem reclame ter sido Jácome de Bruges assassinado, antes sequer de partir ou durante a viagem. Certo é que o seu desaparecimento coincidiu com uma viragem na hierarquia local dos poderes, o que não impede que Jácome de Bruges figure, por direito próprio, na galeria daqueles a quem se deve o arranque da ocupação humana dos Açores. José Damião Rodrigues (2002)

Bibl. Maldonado, M. L. (1989, 1997), Fenix Angrence. Ed. Lima, H. F. P. S., Angra do Heroísmo, Instituto Histórico da Ilha Terceira, 1, 3. Matos, A. T. (1989), Povoamento e colonização dos Açores In Albuquerque, L. (ed.), Portugal no Mundo. Lisboa, Alfa, I: 176-188. Nascimento, P. (1994), Bruges, Jácome de In Albuquerque, L. (ed.), Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses. Lisboa, Ed. Caminho, I: 146-147.