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Zerbone Júnior, Manuel

[N. Horta, 7.11.1856 ? m. Ibidem, 29.3.1905] Literato. De origem sarda ou corsa, estudou no Porto, onde privou com M. Teixeira-Gomes, Luís Botelho e Queirós Veloso, e em Lisboa mas não concluiu qualquer curso superior (Silveira, 1977).

Na Horta foi professor de Francês no liceu e jornalista do grupo que incluiu Florêncio *Terra, Manuel Joaquim *Dias, Rodrigo *Guerra e Henrique das *Neves, que fez O *Açoriano, semanário com espaço dedicado às Letras, e o *Grémio Litterario, onde, segundo Silveira (1998: 599-600), para além dos textos ainda sob a égide do Romantismo, que predominam, surgem [...] sinais de novidade na colaboração, como contista, de Florêncio Terra e, sobretudo de Manuel Zerbone, este com umas prosas poéticas onde se patenteia, sintomaticamente, a influência do criador do poema em prosa, Aloysius Bertrand de Gaspard de la Nuit.

Ainda de acordo com Silveira (1977: 177) Zerbone Júnior, poeta, em verso e em prosa, cronista, contista e romancista, tentou também o teatro. A uma primeira abordagem, a sua obra, [...], parece fútil, por vezes um mero jogo de palavras habilidosamente tecido mas sem fundo. Não é assim, porém. As aguarelas impressionistas deste discípulo de Aloysius Bertrand e de Baudelaire do Spleen de Paris revelam um verdadeiro poeta, delicado e de funda sensibilidade (Silveira, 1977: 177).

Para Marcelino Lima, também seu contemporâneo n? O Açoriano, Zerbone era «alma de artista, verdadeiro esteta em tudo, no julgar e no praticar, até nas cousas mais comezinhas da vida, destacava-se no círculo dos intelectuais; e muito poderia ter-se salientado, porque condições não lhe faltavam, se não fosse a incapacidade para se amarrar ao trabalho de cinzelar obra de vulto.» (Lima, 1943: 569-570).

Para Ernesto Rebelo, Zerbone tem «um estilo ligeiro e maleável, adequado ao predilecto género de literatura que em França teve por iniciador Júlio Janin e no qual, em Portugal, tanto se distingue Júlio César Machado ? o folhetim, as crónicas alegres» (Rebelo, 1982 [1887]: 33-34).

As crónicas saídas n?O Açoriano, com o título genérico ?Crónicas Alegres?, subscritas com o pseudónimo Pablo, foram recolhidas, parcialmente, por Carlos Lobão e editadas, em 1989, pela Câmara Municipal da Horta. Todavia, a restante obra que, segundo Silveira (1998: 601) «daria um bem bom pequeno livro de contos, aguarelas ou poemas em prosa e crónicas (às vezes quase contos)» continua dispersa também pelos jornais hortenses O Fayalense, Atlântico, União e Biscuit e ainda pelos jornais Folha Nova, do Porto, e Diário da Manhã, de Lisboa. Em parceria com Florêncio Terra, escreveu o romance A vingança da noviça, publicado em folhetins n? O *Açoriano, e a peça dramática em três actos Luisa.

Está incluído na Antologia de Poesia Açoriana com a prosa poética «Aguarela» (Silveira, 1977: 177-178). Luís M. Arruda

Obra: (1989), Crónicas Alegres I, 1884-85. Horta, Câmara Municipal da Horta.

 

Bibl. Lima, M. (1943), Anais do Município da Horta. Vila Nova de Famalicão, Oficinas Gráficas Minerva. Rebello, E. (1982), Notas açorianas. Escriptores e homens de lettras. In Arquivo dos Açores [Reprodução fac-similada pela edição de 1887]. Ponta Delgada, Universidade dos Açores, IX: 33-34. Silveira, P. (1977), Antologia de Poesia Açoriana do século XVIII a 1975. Lisboa, Sá da Costa. Silveira, P. (1998), Sobre a Horta como centro literário: uma proposta de estudo. In O Faial e a periferia açoriana nos séculos XV a XX, Horta, Núcleo Cultural da Horta: 597-602.