Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Vespucci, Amerigo

[N. Florença, 1451 ? m. Sevilha, 22.2.1512] Os Açores e o homem que adivinhou a existência da América e lhe deu o nome. Conforme Peragallo, Giuliano del Giocondo, residente em Lisboa, foi enviado por D. Manuel até Sevilha para contratar Vespucci, seu compatriota de Florença, em 1500 ou 1501. Nascido em Florença em 1451, no mesmo ano de Colombo, Amerigo Vespucci já passava dos quarenta anos quando se fixou mais regularmente em Sevilha, no tempo da descoberta do genovês. Empregado da casa comercial de Lorenzo de Medicis, mantinha vivíssimos interesses sobre a navegação, a cosmografia e a cartografia. Quando chegou o inesperado convite de D. Manuel, Vespucci já realizara duas viagens por conta do rei de Castela e Aragão, em 1497 e 1499, até ao Atlântico Meridional americano, ou até ao «novo continente» que acabará por tomar o nome de Americo. Com as insígnias lusitanas, terá realizado duas viagens entre 1501 e 1504, ao longo da costa do Brasil até à Patagónia, durante as quais surgiu a genial intuição sobre esse mundus novus, que barrava o caminho para a Índia e que conduziu o nome do florentino à imortalidade. De regresso a Sevilha em 1505, foi condecorado piloto mayor e ali passou os últimos anos até à morte, em 1512. Se o irmão António Vespucci foi seu sócio inseparável durante a primeira estada em Sevilha, Amerigo privara com outros influentes mercadores estrangeiros, como o poderoso conterrâneo Gianotto Berardi e o genovês Francisco de Riberol, sócio e parente dos Cassana da ilha Terceira, estendendo assim a sua rede de conhecimentos e relações por todas as ilhas do Mediterrâneo Atlântico, dos Açores às Canárias. Um pormenor de extraordinária importância liga Amerigo Vespucci aos Açores: como se aprende de uma inscrição autógrafa no verso do pergaminho, comprara por 130 ducados de ouro ? «uma soma que representava um grosso sacrifício para um homem de meios modestos como ele naquela altura» (Verlinden) ? um mapa para navegantes hoje célebre, executado em 1439 pelo cartógrafo de Maiorca Gabriel de Valsequa. É graças àquele mapa maiorquino que pertenceu ao Vespucci, onde pela primeira vez os Açores são representados num lugar muito próximo da sua real posição noroeste-sudeste, que conhecemos a data da presumida descoberta oficial do arquipélago (1427), para além do nome pouco legível de quem o subtraiu às brumas medievais, Diogo de Simas ou Silves. Uma conhecida referência pessoal de Vespucci aos Açores está contida na Lettera al Soderini, carta enviada em Setembro de 1504 de Lisboa para Pietro Soderini, Gonfaloniere perpetuo della magnifica ed excelsa signoria di Firenze. Relatando a sua terceira viagem, depois da travessia do Atlântico Meridional e uma paragem na Serra Leoa, Vespucci e os seus marinheiros seguiram a Volta pelo largo, que reconduzia ao reino de Portugal escalando os Açores. Há algumas dúvidas sobre a autenticidade da Lettera, que impedem de considerar seriamente estas poucas frases, porém concisas e pouco significativas: «E daqui partimos navegando rumo às ilhas dos Azori, que são distantes deste lugar da Serra (Leoa) cerca de 750 léguas, e chegamos a essas ilhas no fim de Julho, onde ficamos outros 15 dias tomando algum recreio. Depois partimos delas para Lisboa, pois estávamos mais a ocidente de 300 léguas». Se a carta for apócrifa, podemos consolar-nos pensando que o Vespucci teria falado de outra maneira, mais completa, sobre o arquipélago, como fez talvez noutro roteiro. Nos Açores, quase sempre na angra da ilha Terceira, as tripulações europeias das carreiras inter-continentais já se sentiam em casa, e antes de voltar a encarar os temidos corsários ingleses, franceses e magrebinos na última etapa da viagem, costumavam arranjar os veleiros e «tomar recreio». Provavelmente também na segunda viagem às Indias Ocidentais, no regresso de Hispaniola a Cadiz, Vespucci escalara os Açores, mas não entramos aqui no mérito da autenticidade das navegações do florentino e das suas cartas, porque os estudos sobre as mesmas são infinitos e com poucas novidades. Uma curiosa gravura italiana do século XVIII ficou inexplicavelmente nos Açores, em Angra do Heroísmo, para comemorar como se segue o aventuroso navegante: ?Americo Vespucci | discopritore dell?America | nacque nel MCCCCLI morí nel MDXVI | nell?isole delle Terziere nel Portogallo | cavato da un quadro antigo apresso Ill.mº Sig.re Amerigo Vespucci | Giuliano Traballesi del. | Franc.º Allegrini inci. 1762?. Como escreveu o anónimo autor do terceirense Diário Insular, com sede em Angra nas casas que pertenceram ao genovês Luca di Cassana há 500 anos, «Vespucci não teve culpa desta violência registada na sua iconografia, nem de passar por Descobridor da América». Como já vimos, Americo ou Amerigo Vespucci não faleceu na Terceira em 1516, como refere a gravura, mas sim em Sevilha, a 22 de Fevereiro de 1512. Quanto aos artistas autores do concentrado de gaffes, Traballesi foi pintor florentino (1727-1812) professor na Academia de Milão e autor dos frescos do Palazzo Reale. O incisor Francesco Allegrini, que teve mais famosos homónimos que o precederam de um século na península itálica, pode ser o incisor da capa de uma célebre colecção de estampas, reeditada em 1778 na Toscana, muito provavelmente parente de Giuseppe Allegrini, conhecido mestre de gravuras em cobre em Florença, e de Pietro Allegrini, que perpetuou o bom nome da antiga casa de incisões e tipografia Allegrini até ao dealbar do séc. XIX, na cidade toscana à beira do Rio Arno. Pierluigi Bragaglia

Bibl. Bragaglia, P. (1991), Amerigo Vespucci e os Açores, em Os Italianos nos Açores e na Madeira, das origens da colonização a 1583 (conquista espanhola da Terceira), Lisboa/Bolonha, Instituto de Língua e Cultura Portuguesa ? ICALP / Instituto Luís de Camões, Universidade de Bolonha [tese de licenciatura em XX Capítulos], CAP.XVII. Peragallo, P. (1907), Cenni intorno alla colonia italiana in Portogallo nei sec. XIV, XV e XVI. Génova, Stabilimento Tip. Vedova Papini e Figli: 79. Verlinden, C. (1985), Cristoforo Colombo. Visione e Perseveranza. Roma, Ed. Paoline: 146-147. Artigo Panorama (1976), Diário Insular, Angra do Heroísmo, n.º 8934, 27 de Fevereiro. On line: uma pegada do incisor Franc.º Allegrini encontra-se no: SAGGIO ISTORICO DELLA REAL GALLERIA DI FIRENZE VOLUME I IN FIRENZE MDCCLXXIX PER GAET. CAMBIAGI etc.: http://www.memofonte.it/home/files/pdf/pelli_tomo01.pdf.