Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Rosa, Francisco Nunes da (pe.)

[N. Rio Vista, Califórnia, Estados Unidos da América, 22.2.1871 ? m. Bandeiras, Madalena, ilha do Pico, 13.9.1946] Padre, contista e jornalista. Com cinco anos de idade, veio com os pais para a Madalena, quando estes regressaram à terra natal. Admitido em 1884, estudou no Liceu da Horta e, depois, no Seminário de Angra onde foi ordenado, em 1893. Entre este ano e 1896, foi reitor na freguesia do Mosteiro, ilha das Flores. Naquele último ano, foi transferido para a paróquia de Nossa Senhora da Boa Nova das Bandeiras, ilha do Pico, onde paroquiou desde 15 de Agosto até ao seu falecimento. Em 1914, foi nomeado Ouvidor Eclesiástico do Concelho da Madalena.

No Liceu da Horta, foi aluno de Machado Serpa, Silveira Macedo, Florêncio Terra, João José da Graça, Rodrigo Guerra, José Maria da Rosa e de Manuel da Silva Greves e teve como contemporâneos os irmãos Roberto e Carlos Mesquita. Nesse tempo, com a colaboração de amigos próximos, criou vários pequenos jornais como A *Borboleta que dirigia com apenas 15 anos (Telégrafo (O), 1969) e onde publicou algumas das suas primeiras produções jornalísticas. Foi neste ambiente que se revelou vocacionado para as letras.

Durante os anos passados na ilha das Flores escreveu os contos e outras «prosas» do volume Pastorais do Mosteiro. Nas Bandeiras escreveu Gente das Ilhas que integra alguns dos contos publicados em diversos jornais.

Nunes da Rosa é um dos maiores contistas açorianos, digamos mesmo o maior depois de Vitorino Nemésio, sem ser excepcional, merece um lugar de relevo no panorama da ficção nacional (Rosa, 1977). Sem atingir o nível dos grandes contistas portugueses, Nunes da Rosa é, a par de Florêncio Terra, uma figura literária merecedora de projecção nacional, pela qualidade de alguns dos seus contos de funda expressão humana com personagens autênticas, vivas, em ambiente regional bem caracterizado (cf. Rosa, 1990: 69).

A obra de Nunes da Rosa integra-se na literatura regionalista, corrente pós-realista muito em voga nas primeiras décadas do século XX e já no fim do século XIX, como derivante do realismo (Rosa, 1977).

São na maioria contos (por vezes simples quadros, apenas) rústicos, de singelíssima efabulação, cuja matéria o autor tirou pelo natural ou reproduziu da tradição e do anedotário locais numa linguagem umas vezes trabalhada com esmero vernáculo, à maneira de Camilo, de outras com fulgurâncias decadentistas que sugerem influência de Fialho, e a que o vocábulo, o torneio da frase e até, em certos casos, a própria sintaxe populares emprestam certo exotismo arcaico, peculiar dos falares rústicos das ilhas. Pela simplicidade dos seus temas, pela visão idílica da natureza e da vida rural e até por certos processos narrativos, pode-se dizer que foi, na literatura regionalista dos Açores do fim do século, um émulo de Trindade Coelho (Jesus, 1994: 114-115).

De Gente das ilhas têm sido seleccionados alguns contos para antologias (cf. Martins, s.d.; Martins e Mota, 1968; Melo, 1978: 243). «Almas simples», porventura o seu melhor conto, pode ser considerado autenticamente antológico, mesmo numa selecção para além-fronteiras, apesar de conter acção muito reduzida (cf. Rosa, 1977).

Devorado por um incêndio, o espólio literário que legou à Câmara Municipal da Vila da Madalena, constituía uma amostragem singular da tipologia popular açoriana, atravessada por uma inspiração simbolista cujas linhas de força imprimiram aos seus contos uma linguagem recorrencial e afectiva, no caminho do que de melhor se produziu nesse período da história literária portuguesa (Melo, 1978: 242).

Deixou colaboração jornalística dispersa, nomeadamente nos periódicos A *Ordem e *Sinos da Aldeia, por ele fundados e dirigidos na freguesia das Bandeiras, n?O Telégrafo, do seu amigo Manuel Emídio Gonçalves, que ajudou a fundar, n?A Voz, n?O *Picarôto e n?O *Fayalense.

Organizador e dinamizador de inúmeras iniciativas, nas Bandeiras, em 1902, dirigia um posto de observações meteorológicas (Telégrafo (O), 1902) e, em 1915, fundava a Sociedade Cultural, Literária e Recreativa «Juventude Católica Boa Nova» dedicada à alfabetização, ao teatro, à música, ao desporto, à leitura e ao ensino da oratória, entre outras (Garcia, 2001).

Em 1908, foi homenageado pelo rei D. Manuel II com o título de capelão fidalgo da casa real (1908). Desde finais dos anos 1970, o seu nome está incluído na toponímia do concelho da Madalena, na artéria que liga a vila ao lugar da Areia Larga. Um busto no local onde existiu a casa que habitou é uma homenagem da freguesia das Bandeiras. O governo da Região Autónoma dos Açores criou o Prémio Literário Nunes da Rosa.

Usou o pseudónimo João Azul (Ávila, 1989: 75). Luís M. Arruda

Obras: (1904), Pastorais do Mosteiro. Horta, Tip. de O Telégrafo [reeditada, em 1976, pelo Instituto Açoriano de Cultura, com nota preambular de Tomás da Rosa, e em 1988 pelo Círculo de Amigos da Ilha do Pico]. (1925), Gente das ilhas. Bandeiras, Tip. de Sinos da Aldeia [reeditada, em 1978, pelo Instituto Açoriano de Cultura]. (1988), Madrugada entre ruínas. Horta [etc.], Câmaras Municipais do Triângulo [compilação de escritos publicados nos jornais A Voz e O Fayalense, coordenada por Carlos Lobão].

 

Bibl. Ávila, E. (1989), O pe. Nunes da Rosa, homem do seu tempo. Insulana, 45: 69-94. Garcia, T. (2001), Figura maior em plano menor. Telégrafo (O), Letras & Leituras, suplemento literário, n.º 2: 1-2, Horta, n.º 28685, 30 de Abril,. Gomes, F. A. N. P. (1997), A ilha das Flores: da redescoberta à actualidade. Lajes, Câmara Municipal das Lajes. Jesus, E. (1994), Nunes da Rosa in Dicionário cronológico de autores portugueses. Lisboa, Publicações Europa-América, 3. Martins, J. (s.d.), Contos escolhidos de autores portugueses. 6.ª ed., Lisboa, Didáctica. Martins, J. e Mota, J. (1968), Selecta Literária. 9.ª ed., Lisboa, Didáctica, 1. Melo, J. (1978), Antologia panorâmica do conto açoriano. Lisboa, Editorial Vega. Rosa, T. (1977), Gente das ilhas de Nunes da Rosa. Vigília, Horta, (2.ª série), n.º 468, 6 de Agosto. Id. (1990), Alguns estudos, Horta, Câmara Municipal da Horta. Telégrafo (O), 1902, Horta, n.º 2446, Posto Meteorológico, 18 de Janeiro. Id. (1969), Horta, n.º 20956, Maneiras de Ver, 3 de Setembro.