Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Torres, António José António da Silva (barão Pico do Celeiro e visconde da Serra do Pilar)

[N. Santarém, 16.3.1782 ? m. ibid., 6.9.1848] De seu nome completo José António da Silva Torres Ponce de Leão, mas vulgarmente conhecido por José António da Silva Torres.

Assentou praça como cadete no Regimento de Cavalaria 1 a 9 de Abril de 1800 e foi sucessivamente promovido a alferes, em 1805; tenente, em 1809; capitão, em 1810; major, em 1814 (sempre em Cavalaria 1); tenente-coronel, em 1820; coronel, em 1821 (por decreto de 15 de Julho de 1823 passou a coronel do Exército, mas voltou a Cavalaria 8 por decreto de 11 de Setembro de 1826); brigadeiro, em 1832; marechal de campo, em 1845 e tenente-general no mesmo ano.

Distinguiu-se durante a guerra peninsular nas batalhas de Albeura e Vitória. Foi perseguido por ser liberal e afastado da carreira militar à qual voltou como comandante de Cavalaria 8, no Porto, em 1826. Em 1828 aderiu ao movimento liberal contra o governo de D. Miguel, do qual foi um eminente chefe. Com a derrota liberal emigrou para Inglaterra no célebre barco inglês Belfast, para desembarcar na Terceira a 30 de Setembro de 1828 na companhia do general Diocleciano Leão *Cabreira e outros que eram os primeiros socorros que de Inglaterra os chefes liberais emigrados enviam aos revoltosos da Terceira. Fez então parte da Junta Governativa presidida por aquele general, com o qual manteve as mais acesas divergências por entender Silva Torres que Cabreira devia usar de mais vigor e mais castigos públicos para conter a disciplina e chamar os povos à obediência das instituições liberais. Coube a Silva Torres comandar as tropas liberais que marcharam de Angra para enfrentar as milícias armadas que na Praia haviam proclamado um governo interino miguelista e assim desafiavam as autoridades da Junta Governativa liberal. Venceu o coronel Torres as milícias no *Pico do Celeiro, em 5 de Outubro de 1828, vitória com incontestável significado político mas ensombrada pelos actos de vandalismo que se seguiram na perseguição dos vencidos. Consciente da importância desta vitória e certamente orgulhoso dela Silva Torres em Maio de 1830 requeria à Regência que esta data fosse assinalada e ele reconhecido como o comandante nesse combate, certamente por se levantarem dúvidas. A Regência satisfez-lhe o requerido declarando o Conselheiro José António da Silva Torres, coronel do regimento de Cavalaria 8, como o comandante responsável pela vitória. Por ela receberia de D. Pedro IV, ainda no Porto, por decreto de 4 de Abril de 1833, a mercê do título de barão do Pico do Celeiro.

Continuou Silva Torres a sua política de dureza contra os miguelistas e foi o promotor entusiasmado da decisão política da Junta Governativa de demitir os oficiais suspeitos e mesmo as autoridades miguelistas que estavam fora da ilha, entre elas o capitão general Tovar de Albuquerque e muitos outros. O próprio Drumond o acusa de ser o mais responsável pela incongruência das decisões políticas da Junta e a causa do seu fim.

Com a chegada de Vila Flor como capitão-general, Silva Torres foi nomeado, por decreto de 1 de Dezembro de 1828 governador do Castelo de S. João Baptista, mas perdeu a sua influência política pois as orientações de Vila Flor eram em sentido contrário aos seus rigores. Foi ele que recebeu no castelo D. Pedro IV. Governou o Castelo até 13 de Maio de 1832, data em que foi exonerado por ser nomeado comandante do 1.º corpo de Cavalaria do Exército Libertador.

Durante a regência de D. Pedro na Terceira foi nomeado vogal do Conselho de Justiça e anteriormente pertencera à Junta Consultiva criada pela Regência a 3 de Junho de 1830.

Durante o cerco do Porto distinguiu-se no comando da fortaleza da Serra do Pilar, que defendeu heroicamente do ataque do exército miguelista e que lhe valeu mais tarde ser elevado a visconde da Serra do Pilar, por decreto de 1 de Dezembro de 1834 (D. Maria II).

Governou ainda a Torre de Belém (1 de Novembro de 1833) quando Lisboa era atacada pelas forças absolutistas, mas foi conquistado pelos liberais. Comandou a Divisão do Norte e as províncias do Douro e Minho, em 1834.

Participou na política constitucional como acérrimo defensor da Carta e como Par do Reino (carta de 1 de Setembro de 1834), protestou contra a revolução de Setembro e a aplicação da Constituição de 1822. Aderiu à revolta dos marechais, em 1837, e voltou à Câmara dos Pares, com o restabelecimento da Carta em 1842.

Recebeu a mercê de oficial da Ordem da Torre e Espada. J. G. Reis Leite

Fonte. Arquivo Histórico Militar (Lisboa), cx. 565.

 

Bibl. Drumond, F. F. (1981), Anais da Ilha Terceira. 2.ª ed., Angra do Heroísmo, Secretaria Regional da Educação e Cultura, IV: 148, 168, 174, 201, 202, 249, 253, 300, 302, 306. Mónica, M. F. (coord.) (2006), Dicionário Biográfico Parlamentar. Lisboa, Assembleia da República, II: 514-515. Nobreza de Portugal (1961). Lisboa, Editorial Enciclopédia, III: 381.382.