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Terra, Florêncio José

[N. Horta, 18.5.1858 ? m. Ibidem, 25.11.1941] Professor, jornalista e contista. Estudou no Liceu da Horta e depois foi até Lisboa para fazer estudos superiores na Escola Politécnica, mas a morte inesperada do pai, Florêncio José Terra, primeiro de nome, obrigou-o a voltar à Horta (Faria, 2005). Então foi professor no liceu desta cidade, desde 1886, primeiro de Introdução à História Natural e depois de Matemática, e reitor interino, em 1896, e efectivo, entre 1907 e 1919 e depois em 1929.

Foi um dos fundadores do Grémio Litterário Fayalense, em 1874. Presidiu à Câmara Municipal da Horta por alguns meses, em 1914.

Como jornalista colaborou, assiduamente, com quase todas os periódicos do seu tempo. Começou, tinha 18 anos, como redactor do semanário literário A Pátria (1876) e continuou em O Atlântico (1862-1910), Grémio Litterário (1880-1884), O Telégrafo (1893-2004) e Correio da Horta (1930), mas foi no diário O Açoriano (1883-1896) e no semanário literário O Fayalense (II série, 1899-1902) que mais se evidenciou, recorrendo, geralmente, ao uso de pseudónimos como Ignotus, X, Ri...cardo e Máscara Verde. Também colaborou em periódicos do continente como Ocidente, Ilustração Portuguesa, Revista Ilustrada e na página literária de O Século.

Aos 23 anos publicou o primeiro conto, A Varinha, no Grémio Litterário mas, quando morreu, a sua obra estava dispersa por jornais e revistas dos Açores e do Continente. Entretanto, foram publicados Contos e Narrativas (1942, 1.º volume com prefácio de Osório Goulart, em 1981), Natal Açoreano (1949), Munhecas (1979), Água de Verão (1987) e a antologia Às Lapas (1988). Deixou também o romance O Enjeitado (1989). O drama Luísa foi representado no Teatro Faialense, em 1886, e a comédia Helena de Savignac, no mesmo palco, em 1888 (Instituto Açoriano de Cultura, 1978; Lobão, 2001, 2004; Melo, 1978).

Para Greaves (1901: 162), seu contemporâneo, «a actividade mental de Florêncio Terra inclina-se para o conto descritivo, ou emotivo: uma tragédia por tempestuosas noites nas costas dos Açores, com o céu baixo e o perigo constante; ou as cenas da vida campestre, com folguedos e risos de lábios vermelhos. Neste género tão delicado, Florêncio Terra é, indubitavelmente, o nosso primordial artista da pena».

Cultor do conto idílico e prosador fluente, foi sempre destacado pelos críticos. Na vida do povo, do Faial e do Pico, encontrou temática para a sua obra ficcionista. Interessa lembrá-lo como individualidade de renome nas letras, digna de figurar na história da literatura portuguesa. Tentou o romance e o teatro, mas foi no conto que se impôs, como se pode verificar em Contos e Narrativas que contém as suas melhores produções. Segundo Rosa (1990: 94-95) «Os seus contos, dentro dessa corrente, inspiram-se por norma em motivos campesinos, regionalistas. Perpassa neles o povo com a sua alma bondosa e simples, os seus costumes, a sua existência plena de alegria ou de sofrimento. Alguns constituem perfeitos quadros da vida aldeã, que deixam no espírito dos leitores uma viva sensação de paz campestre.

Tais, entre outros, «A debulha», «Vida simples», «Tão velha», «Tua, tua, mas a casar», «Margarida amor fiel». Em «História de um pequeno trabalhador» o autor descreve um ambiente de trabalho e pobreza, de aflição e luto, um drama que nos emociona e confrange. Em «Vingança» sentimo-nos chocados pela atitude indiferente do egoísmo e da injustiça perante a angústia dos que padecem inocentemente».

Foi obreiro da Loja maçónica *Amor da Pátria.

Em Novembro de 1987, por ocasião do 47.º aniversário da sua morte, a Câmara Municipal da Horta homenageou-o descerrando uma fotografia sua no salão nobre dos paços do concelho e editando uma medalha comemorativa (Faria, 2005; Lobão, 2004).

Antes, em 30 de Abril de 1958, aquela Câmara havia decidido atribuir o nome Jardim Florêncio Terra ao então denominado Jardim Público (Câmara Municipal da Horta, Livro de Actas, 99: 30). A mesma Câmara criou um prémio literário com o seu nome. Luís M. Arruda

Obra: (1942), Contos e Narrativas, Lisboa, Parceria António Maria Pereira (Livraria depositária), comp. e imp.. Vila Nova de Famalicão, Tip. Minerva. [1.º volume com prefácio de Osório Goulart; 2.ª edição em 1981, New Bedford, MA, Promotora Portuguesa, Inc.]. (1949), Natal Açoreano. Horta, Emp. do Correio da Horta. (1979), Munhecas: contos. [Angra do Heroísmo], Direcção Regional de Orientação Pedagógica. (1987), Água de Verão: contos e narrativas. [Lisboa], Signo. (1988), Às Lapas ? contos e narrativas faialenses. Horta, Centro de Estudos e Cultura da Câmara Municipal da Horta [antologia]. (1989), O Enjeitado. Horta, Centro de Estudos e Cultura da Câmara Municipal da Horta.

 

Fonte: Câmara Municipal da Horta, Livro de Actas, 99.

 

Bibl. Faria, F. (2005), Florêncio Terra, um grande escritor, Correio da Horta, Horta, n.º 21286, 18 de Maio. Greaves, M. (1901), O Meu Tempo. Horta, Almanach Açoriano. Instituto Açoriano de Cultura (1978), Contos Açorianos II, Angra do Heroísmo, Instituto Açoriano de Cultura, colecção Ínsula, 2: 11-38. Lobão, C. (2001), Florêncio José Terra, In Memoriam. Horta, Clube de Filatelia «O Ilhéu». Id. (2004), Liceu da Horta ? memória institucional. Horta, Associação dos Antigos Alunos do Liceu da Horta. Lopes, A. (2008), A maçonaria portuguesa e os Açores 1792-1935. Lisboa, Ensaius. Melo, J. (1978), Antologia panorâmica do conto açoriano / séculos XIX e XX. Lisboa, Editorial Vega. Rosa, T. (1964), Evocação do período áureo da cultura no Faial, in Livro da III semana de estudos dos Açores. Horta, Instituto Açoriano de Cultura ? Fundação Calouste Gulbenkian: 249-271. Id. (1990), Alguns Estudos. Horta, Câmara Municipal da Horta.