Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Sousa, João Teixeira Soares de

[N. Terreiros, Manadas, Velas, S. Jorge, 12.9.1827 ? m. Ponta Delgada, 1.7.1882] Literato. Filho de Miguel Teixeira *Soares e de Maria Angélica Soares de Albergaria, era bacharel em Matemática (1853) e em Filosofia (1854) pela Universidade de Coimbra. Em 1852, iniciou estudos em Medicina naquela Universidade que viria a abandonar. Após estes estudos, regressou à ilha natal onde exerceu vários cargos em diferentes épocas, como o de vereador na Câmara das Velas e o de juiz de direito, substituto. Em 1855, pelo presidente da Relação dos Açores, foi provido advogado, vitalício, título que usou, gratuitamente, a favor de pobres e desprotegidos.

Em 1864, foi eleito deputado às cortes pelo círculo de S. Jorge e Graciosa na lista do Partido Histórico, mas, em 1865, não foi reeleito, como desejava, porque na sequência da fusão dos partidos militantes, foi substituído por Anselmo José Braamcamp, a pedido do duque de Loulé.

Durante a sua estada nas Cortes, aproveitou para estudar no Real Arquivo da Torre do Tombo, onde colheu informações para os seus trabalhos históricos, particularmente sobre as navegações e as descobertas marítimas dos portugueses e a presença destes no Oriente, e ainda sobre genealogias que continuou depois de regressado à sua quinta na Fajã de Santo Amaro. Foi aqui que também preparou a edição de Cantos populares do arquipélago açoriano que Teófilo Braga anotou e publicou com outros mais, em 1869. Para justificar a não inclusão do nome de Soares de Sousa no frontispício da obra, Braga escreveu: «Juntar o seu nome com o meu [...] era expor um homem de merecimento incontestável a facécias de folhetim; mas lá chegará a hora em que a justiça há-de iluminar a página aonde está escrito o nome do fervoroso obreiro, que na boa confraternidade da jornada, veio confiar-me as mais belas e antigas rapsódias da epopeia portuguesa».

A João Teixeira também se deve a introdução da imprensa jornalística na ilha de S. Jorge, colaborando proficientemente em O *Jorgense que redigiu entre 1871, data da sua fundação, até 1874. Também deixou dispersos escritos que interessam à história de S. Jorge, em particular, e dos Açores, em geral, de que era tido como profundo conhecedor, pelo menos nos jornais O *Insulano, O *Respigador e O *Velense, publicados em S. Jorge, O Católico Terceirense e O Incentivo, de Angra do Heroísmo, A *Época e *Archivo dos Açores, de Ponta Delgada, e na revista Era Nova, de Lisboa.

Dominando as fontes da investigação histórica, mostra-se profundamente crítico na sua selecção e no apuramento dos factos (Matos, 1983: 24). Quando morreu tinha em preparação uma memória sobre a descoberta da Austrália; memória acerca dos capitães donatários dos Açores; acerca de Gaspar Corte Real; e o estudo sobre a Crónica da Guiné ou Observação sobre o Infante D. Henrique e Zurara (Matos, 1983).

Ao tempo, a sua biblioteca foi considerada uma das mais importantes do país. Era membro da Sociedade de Geografia de Lisboa.

Citado, frequentemente, ou como João Teixeira Soares ou apenas como Dr. João Teixeira, o seu nome está homenageado desta última forma, pela Câmara Municipal das Velas, numa rua desta vila. Luís M. Arruda

Obras: (1858), Mappa demonstrativo dos empregados ecclesiasticos desta ilha de S. Jorge, no antigo governo, e na actualidade, pagos pela fazenda publica, e dos seus respectivos vencimentos; bem como das prestações annuaes (fabrica grossa) que da mesma fazenda recebiam então as igrejas perochiaes desta mesma ilha para ornato e reparo das suas capellas mores e sacristias. O Catholico Terceirense, Angra do Heroísmo, n.º 32, 30 de Abril: 278-280. (1873), Documentos relativos à divisão e demarcação da serra entre o concelho das Velas e o da Calheta, no ano de 1716. O Jorgense, Velas, n.º 47, 15 de Setembro: 192-194. (1874), Descripção topographica da ilha de San Jorge, extrahida da Chorographia Insulana do padre António de Carvalho da Costa; ms. da Bibliotheca Publica de Lisboa. O Jorgense, Velas, n.º 75, 15 de Novembro: 303-304; n.º 76, 1 de Dezembro: 307-308. (1881), Camões nas ilhas dos Açores. Era Nova, Lisboa, 1, 8, Fevereiro: 371; 1, 9, Março: 401 [também em Archivo dos Açores (1881), Ponta Delgada, 3: 48-55]. (1881), Camões nas ilhas dos Açores: cap. III. Era Nova, Lisboa, 1, 9, Junho: 401-403.

Notas: (a) Em Matos (1983) e no catálogo da Exposição comemorativa do I centenário da morte do Dr. João Teixeira Soares de Sousa (1982) estão incluídas listas dos artigos que publicou. (b) Os artigos com o título genérico Cousas camoneanas, dispersos por jornais e revistas dos Açores e do continente, foram reunidos por Botelho de Andrade, no jornal A Época, entre 5 de Agosto de 1882 e 12 de Maio de 1883.

 

Bibl. Andrade, J. A. B. (1882), O Dr. João Teixeira Soares de Sousa. Velense (O), S. Jorge, n.º 64, 25 de Julho, [transcrito de A Época]. Dias, U. M. (2005), Literatos dos Açores (2ª edição). S. n., Editorial Ilha Nova. Evens (1882), Morte do Dr. João Teixeira Soares de Sousa. Velense (O), S. Jorge, n.º 64, 25 de Julho, [transcrito de A Persuasão]. Exposição comemorativa do I centenário da morte do Dr. João Teixeira Soares de Sousa (1982), catálogo. Velas, Universidade dos Açores, 3-18. 7. Matos, A. T. (1983), João Teixeira Soares de Sousa (1827-1882): aspectos da sua vida e obra. Arquipélago (série Ciências Humanas), número especial: 7-42. Respigador (O), (1889), S. Jorge, n.º 14, 20 de Janeiro, João Teixeira Soares de Sousa, bacharel formado em Philosophia pela Universidade de Coimbra e sócio correspondente da Sociedade de Geographia de Lisboa. Sousa, J. D. (2003), Ilha de S. Jorge. Apontamentos históricos e descrição topográfica. 2.ª ed., Velas, Câmara Municipal de Velas. Velense (O), S. Jorge, n.º 64, 25 de Julho, Dr. João Teixeira Soares de Sousa. Ibid. (1882), S. Jorge, n.º 67, 8 de Setembro, Dr. João Teixeira Soares de Sousa [transcrito de Commercio de Portugal].