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Sousa, João Inácio de

[N. Santo Amaro, São Jorge, 28.3.1849 ? m. Estados Unidos da América, 5.4.1924] Era filho do carpinteiro João Inácio de Sousa «Canarinho» e de Mariana Josefa de Matos. Terá sido, porventura, o maior filantropo açoriano do século XX, constituindo uma das mais notáveis fortunas açorianas nos Estados Unidos da América. Originário de uma humilde família veio a emigrar em data anterior a 1870, pois o recenseamento militar desse ano já o dá como ausente na Califórnia. Segundo Wallace Morgan, em 1866, estava estabelecido no condado de Stanislaus dedicando-se ao pastoreio de ovelhas e à agricultura na qualidade de jornaleiro. Em 1873 residia em Delano (condado de Kern), gerindo o seu negócio de criação de gado ovino. A partir desta data a sua ascensão empresarial e económica parece ter sido notável. Em 1881 comprara 480 acres de terra em Bakersfield onde mais tarde viriam a ser descobertas extensas jazidas de petróleo. Em 1906 assume o cargo de vice-presidente e director do Portuguese-Amercican Bank of San Francisco, sendo além de proprietário de um hotel, director do Bank of Bakersfield e da Security Trust Company.

Também conhecido nos Estados Unidos como «John Enas», a imprensa local e seus descendentes colocavam-no como um homem simples e generoso que nunca ostentava a sua fortuna. Segundo os periódicos norte-americanos, supõe-se que casou com Mariana J. Bettencourt, falecida em 1911. João Inácio de Sousa perecia na América em 5 de Abril de 1924, embora não exista unanimidade quanto a esta data. Sem descendentes directos, a sua enorme fortuna, estimada em 1 milhão de dólares, transita para a sua única irmã viva, Ana Josefa de Oliveira, residente na freguesia de Santo Amaro. No seu testamento de 1922 legava 10 mil dólares ao Asilo de Mendicidade das Velas e outros tantos à Misericórdia da mesma vila. Num segundo testamento, elaborado em Março de 1924, reforçava a quantia a ser entregue a estas instituições, com 100 mil dólares a cada uma, entre várias outras doações a entidades religiosas e de caridade, nomeadamente para a Sé de Angra e Asilo da Urzelina. Esta disposição não surtiria efeito legal nos Estados Unidos visto ter sido produzida 30 dias antes do seu óbito; no entanto sua irmã e restantes familiares encarregaram-se de fazer cumprir a última vontade do benemérito.

A enorme soma legada ao Asilo de Mendicidade das Velas (mais tarde denominado Casa de Repouso João Inácio de Sousa) e à Misericórdia permitiram-lhes gozar de desafogada situação financeira e de adquirir sofisticados equipamentos e infra-estruturas no âmbito da prestação de cuidados de saúde. Numa das várias manifestações de reconhecimento público estas instituições erigiram-lhe, nas Velas, uma estátua no Largo Dr. Pereira da Cunha (Praça Velha) em 1934, a única na vila. João Inácio de Sousa é, ainda hoje, alvo de continuadas acções de reconhecimento público em toda a ilha de S. Jorge. Paulo Lopes Matos

Bibl. Maciel, F. (2007), João Inácio de Sousa in Velas. Município, Câmara Municipal das Velas. NETO, J. (2004), Grande Reportagem, 172, 24 de Abril.