Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Serpa, António Ferreira de

[N. Matriz, Horta, 13.6.1865 - m. Lisboa, 24.7.1939] Historiador. Estudou no Liceu da Horta, onde foi matriculado pela primeira vez em 1875. Em 1881 já se encontrava em Lisboa, onde continuou os seus estudos liceais e ingressou no Curso Superior de Letras que viria a realizar entre 1882 e 1886 (Reis Leite, 1989-1990; Ribeiro, 2007: 138).

Era Doutor em Filosofia e Letras pelo Real Istituto Monreale di Studi Superiori, de Palermo, Itália (1909), e Doutor em Filosofia pela Universidade Hispano-Americana (1909).

Para Lima (1943: 572), «foi incontestavelmente um exímio açorianista. [...] poucos açorianos concorreram mais para a divulgação da pátria insular, especialmente do Faial [...]. Defender a posição estratégica dos Açores, particularmente do porto da Horta, matéria sobre a qual teve intervenção pública, foi um dos seus objectivos como cidadão (ver publicações 1903a; b; 1940). Ainda segundo este autor, alguns dos seus escritos [...] tornaram-se notáveis e foram opinião cotada nas academias».

Segundo Reis Leite (1989-1990), «Ferreira de Serpa tinha em grande consideração um sentido de história muito apegado ao documento e daí lhe advinha a preocupação de fundamentar tudo o que escrevia em documentos que procurava afanosamente em arquivos públicos e privados. [...] Genealogista emérito, tinha um conceito alargado desta ciência auxiliar da história vendo-a por um prisma social e como elemento privilegiado para a compreensão da sociedade. Por isso usou dos seus conhecimentos para aprofundar as raízes de muitas famílias faialenses, principalmente estrangeiras ligadas ao comércio, que fizeram a riqueza da Horta».

É autor de bibliografia vasta e dispersa, geralmente rara, em livros, folhetos, almanaques, anais, arquivos, boletins, revistas e jornais (cf. Leite, 1989-1990), muitas vezes dedicada à história açoriana, principalmente ao período do descobrimento e povoamento das ilhas portuguesas do Atlântico, assim como ao das famílias estrangeiras que nelas se fixaram. Segundo Reis Leite (1989-1990), «foi um dos principais divulgadores dos cronistas açorianos, nomeadamente Gaspar Frutuoso e Frei Diogo das Chagas. [...] Publicou muito sobre a história do Faial divulgando um conjunto de documentação notável que ainda constitui o que de melhor existe sobre esta ilha e a do Pico».

Em 1936, respondendo a convite da Câmara Municipal da Horta, aceitou redigir os Anais do Município, mas o projecto não chegou a concretizar-se.

Foi membro de várias instituições científicas estrangeiras, nomeadamente em Espanha, Hong-Kong, França, Brasil, Itália e Índia. Em Portugal integrou, entre outras, a Academia Portuguesa de História e a Sociedade de Geografia de Lisboa.

Próximo do Partido Progressista, concorreu como independente, a partir de 1906, a deputado pelo círculo da Horta (Leite, 1995).

Com residência em Lisboa, foi representante consular de várias nações, particularmente da América Latina (Colômbia, Equador, Guatemala, Haiti, Hawai, Honduras, Nicarágua, Peru, Panamá, República Dominicana, Salvador e Venezuela) e ainda da Libéria (Leite, 1989-1990; Ribeiro, 2007).

Era Oficial da Ordem de Mérito Agrícola e da Ordem de Mérito Industrial de Portugal e possuía várias condecorações estrangeiras, nomeadamente, de Espanha, da Venezuela, do Japão e da França. Era o único português com o título hereditário de patrício da República de San Marino, Nobile Patrizio Sanmarinese, com brasão de armas e o tratamento de dom, conferido em 1896. Luís M. Arruda

Obras (consideradas principais): (1903a), A ilha do Faial porto-franco e pôrto militar. Algumas considerações. Lisboa, Imprensa de Libano da Silva. [Comunicação ao Congresso Marítimo Nacional]. (1903b), A importância estratégica da ilha do Faial. Lisboa, Officina Typographica. (1904), Revolta dos flamengos. Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, s. 22 (4): 142-148. (1904), Martinho da Bohemia (Martin Behaim). Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, s. 22 (9): 297-307. (1910), Dados genealógicos e biográficos de algumas famílias faialenses ? I Arriaga. Lisboa, Ed. do autor, 2 vols.. (1916), O bandeirante António Silveira Peixoto conquistador de Tibají. Coimbra, s.e.. (1917), Dois açorianos no ?Governo interino? proclamado em 15 de Setembro de 1820 e depois na ?Junta Provisional do Governo do Reino?. Arquivo da Universidade de Lisboa, 4: 133-301. (1921), Dois inéditos acerca das ilhas do Faial, Pico, Flôres e Côrvo: Saudades da Terra (séc. XVI) por Gaspar Frutuoso e Espelho Cristalino em jardim de várias flores (séc. XVII) por Frei Diôgo das Chagas. Coimbra, Imprensa da Universidade. (1925), O descobrimento do arquipélago dos Açores. Porto, Livraria e Imprensa Civilização Editora. (1926), Com Frei Alexandre da Sagrada Família, bispo de Malaca e de Angra, bispo eleito do Congo e Angola, governador deste bispado, tio e professor de Garrett. Notas e documentos. Anais das Bibliotecas e Arquivos de Portugal, (2), 7, 25-28: 9-56. (1928), Os flamengos na ilha do Faial ? A família Utra (Hurtere). Archivo do Conselho Nobiliarchico de Portugal, 3: 123-282. (1932), A família ?Brum?. Lisboa, Ed. do autor. (1940), O porto militar da Horta. In Livro do primeiro congresso açoriano. Lisboa, Casa dos Açores: 585. (1944), Uma colónia francesa na ilha do Faial no século XVII. Anais da Academia Portuguesa de História, 9: 209-231.

 

Bibl. Associação dos Antigos Alunos do Liceu da Horta (s.d.), Relação, por anos de entrada, dos alunos do Liceu da Horta (1852-1976). S.l., s.e.. Lima, M. (1943), Anais do Município da Horta. Vila Nova de Famalicão, Oficinas Gráficas Minerva. Leite, J. G. R. (1989-1990), O historiador António Ferreira de Serpa. A bibliografia possível. Boletim do Núcleo Cultural da Horta, 9: 23-50. Id. (1995), Política e administração nos Açores, de 1890 a 1910. O primeiro movimento autonomista. Ponta Delgada, Jornal de Cultura. Ribeiro, F. F. (2007), Em dias passados. Horta, Núcleo Cultural da Horta. Telégrafo (O) (1939), Horta, n.º 11999, 17 de Agosto, Dr. António Ferreira de Serpa [notícia da morte].