Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Arriaga, Manuel José de

(M. J. de A. Brum da Silveira) [N. Horta?, 8.7.1840 - m. Lisboa, 5.3.1917] Advogado, professor, político e escritor. O local de nascimento de Manuel de Arriaga continua por desvendar. O facto de ter sido baptizado na Horta levou os biógrafos a registar o seu nascimento nesta cidade, mas há testemunhos da época que referem ter nascido na ilha do Pico, na localidade do Guindaste, na casa de veraneio da família. Viveu a infância e a juventude no seio de uma família aristocrática e legitimista, mas o seu espírito romântico e liberal foi-se formando com as leituras orientadas por uma educadora americana. Na Universidade de Coimbra, onde se formou em Direito, em 1865, distinguiu-se como estudante de elevada craveira e, desde logo, propagandeou os ideais republicanos. Dificuldades económicas e desavenças políticas com o pai levaram-no a recorrer ao ensino para angariar os meios necessários ao seu sustento. Exerceu com prestígio a actividade de advogado em Lisboa, conjuntamente com a de professor de Inglês, no Liceu, depois de ter sido preterido nos concursos que fez para ingressar no magistério superior. Como pedagogo, fez parte da comissão encarregada da reforma da instrução secundária, em 1876. Reconhecido pelas suas qualidades, chegou a ser convidado por D. Luís para perceptor dos príncipes, mas recusou o convite por razões ideológicas. Empenhado, desde cedo, na vida política, andou ligado, em Coimbra, aos grupos de Antero de Quental e Teófilo *Braga e, em Lisboa, continuou a sua militância destacando-se como orador brilhante. Participou na criação dos primeiros centros republicanos; foi um dos signatários do programa das Conferências Democráticas do Casino Lisbonense, em 1871; foi deputado pelo círculo do Funchal, nas legislaturas de 1882-84 e 1890-92; fez parte do Directório do Partido Republicano em 1891-94 e 1897-99. Em 5.10.1910, Manuel de Arriaga contava 70 anos de idade e não tomou parte activa no movimento que derrubou o regime monárquico. Foi incluído nas listas de deputados para a Constituinte, tendo sido eleito pelo Funchal, e exerceu os cargos de reitor da Universidade de Coimbra (23.10.1910 a 2.2.1911) e de procurador-geral da República (nomeado a 27.10.1910). Nas eleições para a Presidência da República não tomou a iniciativa de apresentar candidatura, mas também não recusou a proposta feita pelos seus apoiantes. Acabou por ser eleito, por escassa maioria, com os votos do Bloco Conservador, em 24.8.1911. Exercendo o mandato num período agitado da vida nacional e internacional, foi obrigado a renunciar ao cargo de presidente em 26.5.1915, na sequência de um movimento revolucionário. A atitude conciliadora que manifestou ao longo do mandato nem sempre foi bem sucedida, num período de forte luta política pela conquista do poder, em que se sucederam golpes, contragolpes e governos de várias tendências políticas. A situação agravou-se quando nomeou Pimenta de Castro para chefe do governo e este iniciou uma ditadura. A revolta bem sucedida contra Pimenta de Castro, a 14.5.1915, acabou por atingir o presidente da República, que foi obrigado a demitir-se. No relatório/memória sobre a sua passagem pela Presidência procurou justificar as atitudes tomadas, mostrando-se bastante desgostoso com a vida política portuguesa. Revelou-se, também, como escritor e poeta, desde a sua juventude. Nas obras de poesia e prosa estão patentes as marcas da insularidade, a influência positivista, romântica e o seu espírito religioso e idealista. Carlos Enes (Nov.1995)

Obras principais: (1866), Sobre a Unidade da Família Humana debaixo do Ponto de Vista Económico. Lisboa, Imp. Nacional. (1878), Renovações Históricas. Lisboa, Imp. Rua da Rosa. (1887), Canto ao Pico. S.l. (1899), Cantos Sagrados. Lisboa, Manuel Gomes, Ed. (1901), Irradiações. Lisboa, Typ. do Dia. (1907), Harmonias Sociais. Coimbra, F. França Amado. (1916), Na Primeira Presidencia da Republica Portugueza, Um Rapido Relatorio. Lisboa, Liv. Clássica Ed.

 

Bibl. Dias, U. M. (1931), Literatos dos Açores. Vila Franca do Campo, Emp. Tip. Lda. Marques, A. H. O. (1977), Arriaga, Manuel de, In Cochofel, J. J. (ed.), Grande Dicionário da Literatura Portuguesa e de Teoria Literária. Lisboa, Iniciativas Editoriais, I. Santos, A. M. A. M. (1916), A Ordem Pública e o 14 de Maio. Lisboa. Serrão, J. V. (1989), História de Portugal [1910-1926]. Lisboa, Verbo, XI. Veríssimo, N. (1987-89), O deputado do povo Manuel de Arriaga (1882). Islenha, Funchal, 1 e 4.