A Secretaria Regional da Educação, Cultura e Desporto, através da Direção Regional da Cultura, através do Museu das Flores, irá realizar no dia 16 de setembro, na Fábrica da Baleia do Boqueirão, a partir das 20h30, o evento "Travessias Baleeiras: Nantucket-Flores".
Desde os contactos pioneiros, em meados de setecentos, que o ‘Canal d’América’ se tornou num corredor a ligar dois mundos pela partilha de idéias, técnicas e saberes essenciais nas respostas de sobrevivência. Mas mais do que tudo, estes mundos ligaram-se por pessoas, famílias, pela História que somos.
Os baleeiros da ilha de Nantucket foram dos primeiros a aventurar-se no Atlântico atrás do cachalote. Inovaram na caça, no derreter da baleia a bordo, na construção naval e no negócio do óleo. Aproveitaram a Corrente do Golfo na navegação e, muito antes da independência americana, arribaram às Flores para ‘bay whaling’.
Depois vieram as guerras, provocando altos e baixos e o recentrar da actividade baleeira. Tamanha era a ligação do ‘Canal d’América’ que as águas das Flores-Corvo acabaram por ser palco da Guerra Civil americana. O vapor Alabama, da marinha confederada, atacou e destruiu vários baleeiros do Norte. As tripulações refugiaram-se nas duas ilhas, com botes e palamenta. Muitos ficaram e a baleação florentina floresceu.
Mesmo como ‘indústria relíquia’ a baleação mudou e evoluiu até ao último quartel do século passado. Prova eloquente desta adaptação evolutiva e ligação entre mundos é o bote baleeiro açoriano. Chama-se ‘Ponta Delgada’ o único remanescente das mãos pioneiras do Mestre ‘Experiente’, do Pico. Foi oferecido por um armador das Flores ao Museu de Marinha e está a ser estudado para conhecermos o processo evolutivo.
É precisamente sobre estas ligações históricas entre Nantucket e as Flores que irá refletir o orador convidado, Pedro Bicudo. Natural de São Miguel (Açores), é doutorando em História Marítima pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Licenciado em Geografia pela Universidade de Coimbra, concluiu o mestrado em Jornalismo de Televisão na Northeastern University, em Boston. Iniciou-se no jornalismo como editor do semanário luso-americano O Jornal, em Fall River, e foi correspondente internacional da RTP em Washington (2000-2007), onde acompanhou acontecimentos de relevo mundial como os atentados de 11 de setembro e as eleições presidenciais norte-americanas. Entre 2007 e 2012 dirigiu a RTP Açores e, mais tarde, lecionou Língua e Culturas Lusófonas no Instituto Superior de Diplomacia, em Washington. Atualmente, além de colaborar com órgãos de comunicação social, desenvolve investigação em património marítimo e construção naval tradicional.