"Os objectos doados ao museu nos últimos 10 anos gravitam à volta da casa. São, na sua maioria, não objectos extraordinários, mas sim objectos do quotidiano que se abrem a múltiplas leituras. Por um lado, contam uma história da vida privada; por outro, encerram memórias e cargas afectivas mais ou menos reveladas. É destas duas dimensões que deriva o seu valor e são elas que incitam o gesto da doação, no intuito de resgatar estes objectos da perda e do esquecimento.
Na sala maior, as peças são perspectivadas à luz de uma história da vida privada, organizando-se por núcleos sobre diversas actividades que a casa comporta. Pontualmente, algumas peças contam a sua história pessoal, revelando o valor afectivo que escondem.
Na sala menor, exploramos a dimensão narrativa dos objectos. Se muitas das peças encerram histórias pessoais que desconhecemos ou que caíram no esquecimento, recriamos esse gesto de criação de sentido, convidando várias pessoas a inventar ficções ao redor de peças. Deste modo, o acto de contar multiplica-se e a narrativa — que tanto serve processos curatoriais, a disciplina da história, a literatura ou a criação de memórias pessoais — ajuda a revelar a fluidez de fronteiras entre a realidade e a ficção, assim como entre os discursos científicos, a literatura e a memória."