23 a 30 de Março
"A POESIA À SOLTA NA CIDADE DE ANGRA DO HEROÍSMO"
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Não sabemos nem queremos definir a poesia. Com o termo smog sublinhamos isso mesmo, a riqueza e a multiplicidade da poesia, cujos contornos, qual sfumato, se diluem dentro de cada leitor, dentro de cada ouvinte. E numa ilha onde as nuvens são uma presença encantatória e quotidiana, queremos celebrar essa arte de, com as palavras, se fazer música e nos aproximarmos da beleza, queremos dar voz a diferentes formas de inspiração, queremos honrar a raiz do vocábulo, celebrando a poesia erudita e a poesia popular, recordando poetas açorianos e poetas de todo o mundo. Porque a poesia tanto é fortemente individual e local, como é universal.
Sendo uma das mais antigas formas de expressão artística, anterior à escrita, em verso se narraram os feitos e os valores humanos das civilizações antigas, de que os Vedas, a Ilíada, a Odisseia, a Epopeia de Gilgamesh e a Bíblia são exemplos. Por isso, quisemos fazer a ponte entre a poesia e a mais antiga cidade açoriana (desde 1534), Angra do Heroísmo. Cidade redonda, de “geometria orgânica”, que abraça o mar, cujo traçado urbanístico e arquitetónico de grande significado dentro da história da expansão europeia fez com que fosse classificada pela UNESCO, em 1983, como Património Cultural da Humanidade.
Parafraseando José Guilherme Reis Leite, podemos dizer que Angra é essencialmente história, mas também beleza e lugar marcado pelo “espírito dos seus cidadãos, gente um pouco contraditória, mas decidida a sobreviver com dignidade e sempre inclinada para a alegria de viver”. Assim, em jeito de homenagem a Angra, aos seus cidadãos e aos poetas açorianos, pensamos que a poesia pode e deve andar sobre rodas, de transportes públicos, em traje popular.
Recordando Natália Correia, afigurou-se-nos que também pode ser degustada e levamo-la para os restaurantes. E para os bares e cafés da cidade. Porque achamos que ela tem tanto de celebração e tradição, como de excesso e desassossego. Quisemos ainda sublinhar o lado insólito e transgressor que a poesia também possui, os vasos comunicantes com o vinho, o chocolate, as canções. Ou realçar como é generosa e rica em esperança, levando-a até à prisão.
A poesia é feita por poetas. Por isso pedimos a dois, António de Névada e Luísa Ribeiro, que selecionassem poetas e poemas, para os autocarros, para os bares, cafés e restaurantes. Poetas dos Açores. Poetas portugueses e poetas de todo o mundo. Por isso recordamos Mário Cabral (1963-2017), que passou pela cidade como um cometa, prestando-lhe uma homenagem, e recordamos Turlu (Maria Angelina de Sousa, 1907-1987), que encantou sucessivas gerações de açorianos. Por isso pedimos a Nuno Moura (poeta, performer e editor) que viesse até Angra para uma residência artística. E como a poesia também é feita por leitores, contamos com Madalena Ávila, que fez a escolha dos poemas para o Estabelecimento Prisional de Angra do Heroísmo. E com vários atores que a interpretarão em diferentes locais de Angra, na rádio e na televisão.
A poesia está sobretudo nos livros. Para falar de poemas e de livros nada melhor do que aqueles que com eles trabalham, Fernando Pinto do Amaral (poeta, crítico e professor) e Pedro Mexia (poeta, crítico e editor), que partilharão experiências e livros e que o farão na casa dos livros, ou seja, na Biblioteca e Arquivo Luís da Silva Ribeiro.
A poesia também contamina outras artes. Diálogo esse bem visível no filme que pela primeira vez se exibe nos Açores, Só dez por cento é mentira, de Pedro Cézar, sobre Manoel de Barros.
E por falar em arte, resolvemos associar a exposição/instalação de vídeo Nuvens, da artista Diana Coelho ao SMOG, porque sendo uma atividade do “Isto é Arte!”, Nuvens é uma instalação sobre o caminho para a imaterialidade ou um ensaio sobre um palco antigravitacional e sobre o peso/leveza em formato de vídeo-instalação, na qual a audiência é a própria forma performativa. Que confirma também esta contaminação entre géneros e artes.
A ideia foi nossa, mas apenas se pode tornar possível através da união de muitos e vários apoios e parcerias, pessoas, empresas e instituições, a quem muito agradeço, em nome do Instituto Açoriano de Cultura.
Ouve-se muitas vezes falar de instituições que andam de costas voltadas, de rivalidades, de competição. Nós, no IAC, assumimos uma outra política, a da partilha, a do associativismo, ao mesmo tempo que pretendemos mostrar como se pode animar uma cidade durante oito dias. Não menos importante, pelo menos para nós, é termos pensado esta iniciativa como transversal a faixas etárias, grupos sociais e culturais. Porque a poesia é de todos e para todos.
SMOG é por isso a poesia em festa. E a prova de que há muitos e diversos poetas açorianos. O seu elevado número não nos permitiu dar voz a todos. Aqueles que nos ajudaram escolheram apenas alguns. No caso dos poetas que serão ditos por vários atores na rádio e televisão, procuramos um equilíbrio entre novos e menos novos, vivos e mortos, vozes masculinas e vozes femininas.
O Instituto Açoriano de Cultura acredita que esta atividade é de extrema importância, por dar visibilidade à literatura açoriana, por divulgar poetas com obra relevante, embora alguns sejam pouco conhecidos, por assumir a ilha como um espaço de criatividade e de sonho.