[N. ?, 1820? ? m. Heidelberg, Alemanha, 28.3.1891] Geólogo alemão. Veio aos Açores, em 1857, onde se encontrou com Henri *Drouët e Pierre-Arthur *Morelet, tendo percorrido todas as ilhas. Recolheu amostras de rochas e de minerais e fez observações interessando à orografia, à litologia, ao clima, à vegetação e ao regime hidrográfico.
A ideia de visitar os Açores foi-lhe sugerida por Charles Lyell, de quem era amigo e discípulo, a pedido de Charles *Darwin, com o objectivo de serem encontrados vestígios do período glaciar neste arquipélago. Hartung (1860: 294-295) considera terem sido transportados pelos icebergs os blocos de calcário, de granito de outras rochas, medindo vários pés de diâmetro, que observou sobre a costa da Praia da Vitória (ilha Terceira) e na baía de Vila do Porto (ilha de Santa Maria). A opinião preconcebida da existência de blocos erráticos poderá ter levado o geólogo a exagerar as suas dimensões reais (Arruda, 1998).
Esta interpretação de Hartung foi inteiramente aceite por Darwin que dela tirou argumentos para explicar o carácter setentrional da flora açoriana com que contactara, em 1836, quando havia realizado algumas excursões na ilha Terceira, que havia escalado durante a sua viagem à volta do mundo a bordo do iate Beagle. Esta teoria foi contestada por aqueles que defendiam terem os blocos erráticos em questão sido trazidos como lastro para as embarcações que deles se libertavam após a chegada ao ancoradouro (Arruda, 1998).
A existência de fragmentos rolados de rochas estranhas às ilhas dos Açores, relacionados com a ocorrência de glaciares no arquipélago, foi confirmada, recentemente, por A. Serralheiro e J. Madeira, em plataformas quaternárias levantadas, entre 80 m e 200 m de altitude, na ilha de Santa Maria (Madeira, com. pess.).
Também foram importantes as descobertas que fez relativamente à fauna fóssil da ilha de Santa Maria, cuja descrição foi feita por H. Bronn e que Hartung incluiu na sua obra (Hartung, 1860: 116). Embora, já desde muito, fossem conhecidos os jazigos calcários daquela ilha [...], ninguém, antes do geólogo alemão, tinha observado os restos orgânicos que eles encerram em abundância (Canto-e-Castro, 1890). Esses restos correspondiam a formas de conchas características de regiões mais frias, circunstância que, de certo modo, corroborava a hipótese de Hartung sobre a glaciação do arquipélago açoriano nos primórdios da era quaternária. Luís M. Arruda
Obras que interessam aos Açores: Hartung, G. (1860), Die Azoren in ihrer äusseren Erscheinung und nach ihrer geognostischen Natur geschildert. Leipzig, Verlag. W. Engelman. G. Hartung e C. Mayer (1864), Tertiär-Fauna der Azoren und Madeiren. Zurich, Friedlander.
Bibl. Arruda, L. M. (1998), Os naturalistas, o Faial e a periferia açoriana até ao século XIX. In O Faial e a Periferia Açoriana nos Séculos XV a XX, Actas do II colóquio. Núcleo Cultural da Horta, Horta: 621-639. Canto-e-Castro, E. V. P. (1890), Ensaio sôbre a Bibliographia Geologica dos Açores. Archivo dos Açores. Ponta Delgada, Universidade dos Açores, 11: 268-303.