O almanaque é uma publicação já conhecida entre os povos antigos, mas que só começou a ser divulgado com maior profusão a partir da invenção da imprensa. Em Portugal, a sua vulgarização iniciou-se nos finais do século xviii, prosperou no século xix e atingiu o seu apogeu no início do século xx. Os almanaques são consumidos por todas as classes sociais, porque veiculam uma informação de fácil leitura, transformando-se num passatempo agradável. Existem almanaques dos mais variados tipos e âmbitos, desde os literários e políticos aos satíricos e brejeiros, com circulação nacional, regional ou local.
Nos Açores publicaram-se, na primeira metade do século xix, algumas folhinhas aparentadas com almanaques: Folhinha da Terceira (1831), Folhinha Açoreana (1841) e a Folhinha Açoreana Michaelense (1843). O primeiro almanaque conhecido foi publicado em 1851, pela Sociedade Promotora da Agricultura Michaelense, e denominava-se Almanach Rural dos Açores. Na década seguinte, foram surgindo outros almanaques publicados, essencialmente, nas cidades do arquipélago. Alguns deles tinham uma circulação que não ultrapassava a ilha onde foram impressos, mas outros cobriam o arquipélago e, inclusivamente, as comunidades de emigrantes. A estrutura dos principais almanaques apresenta uma organização semelhante: abrem com o calendário para o ano a que dizem respeito e indicam os dias de gala, feriados nacionais e municipais. Seguem-se informações de utilidade pública, dados estatísticos muito variados, temas históricos, textos de prosa e poesia, biografias, alguma crítica literária, anedotas, enigmas, charadas, adivinhas e, inclusivamente, receitas culinárias. Muitos deles trazem anúncios publicitários de casas comerciais e industrias. O número de páginas varia entre as 20 e as 300.
Dos almanaques publicados nos Açores, respigam-se os seguintes títulos com as respectivas datas de início de publicação, ordenados por ordem cronológica e por ilhas: S. Miguel - Almanach Rural dos Açores (1851), Almanach Açoriano (1854), Almanach do Arquipélago dos Açores (1865), Almanach Económico dos Açores (1866), Almanach Anti-jesuita (1867), Almanach das Belas Artes (1868), Almanach Popular dos Açores (1870), Almanaque das Ratices da Tia Genoveva (1871), Almanach Açoriano de Lembranças (1871), Almanach Para Todos (1873), Almanak do Povo Açoriano (1875), Almanach Recreativo (1877), Almanach do Pataco (1880), Almanach Curioso (1881), Pérola dos Açores - Almanach (1882), Minerva Almanak (1883), Almanach do «Campeão Popular» (1889), Almanak Agrícola (1892), Almanak Republicano Michaelense (1893), Almanaque Anuário Micaelense (1925), Almanaque das famílias (1928), Almanaque de S. Miguel (1933), Almanaque Popular dos Açores (1950) e o Almanaque das Famílias (1952); Terceira - Almanach Económico e Noticioso - O Maragato da Terceira (1865), Almanach Insulano (1873), Almanak (sem título) - Folhinha da Terceira (1877), Almanak - O Progressista (1879), Almanak das Curiosidades (1880), Almanak da Sociedade Cooperativa de Consumo de Angra do Heroísmo (1883), Almanak Bijou (1886), Almanak Açoriano (1887), Almanach Praiense (1887), Almanak (Novo) das Gargalhadas (1889), Almanak (Novo) Infantil (1889), Almanaque Açores (1903), Almanaque A Cruz (1916), Almanaque do Camponez (1917), Almanaque do Semeador (1926), Almanaque Desportivo (1952), Almanaque O Archipélago (1963), Almanaque Anuário Terceirense (1960) e o Almanaque Anuário Ilhéu (1973); Faial - Almanak Fayalense, Almanaque do Tio Braz e Almanak de Luz, todos no ano de 1872, Almanach Hortense (1900) e o Almanaque Açoriano Ilustrado (1901); S. Jorge - Almanach Jorgense (1920), Almanaque S. Jorge (1929) e Almanaque Insular (1936); Santa Maria - O Sacristão e o Sineiro das cidades e Vilas e Aldeias (1933).
O período de vida dos almanaques foi muito variável: alguns duraram um só ano como, por exemplo, o das Belas Artes; outros, mais de 20 anos, como o das Famílias, o Anuário Micaelense e o do Camponez; o Almanaque Açores foi o que alcançou maior longevidade, editando-se durante meio século. O levantamento dos almanaques publicados nos Açores evidencia que os finais do século xix correspondem à grande fase de expansão destas publicações, vindo a declinar gradualmente ao longo do século xx. Carlos Enes (Nov.1995)
Bibl. Canto, E. (1890-1900), Biblioteca Açoriana. Ponta Delgada, Typ. do Archivo dos Açores, 2 vols. Marques, A. H. O. (1981), Guia de História da 1.ª República Portuguesa. Lisboa, Ed. Estampa. Moura, A. V. C. (1982), O Almanaque nos Açores (1851-1981). Ponta Delgada, Universidade dos Açores (mimeografado). Radich, M. C. (s.d.), Almanaque - Tempos e Saberes. Coimbra, Centelha.