Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Arquivo dos Açores

Referência incontornável na historiografia açoriana, esta colectânea documental e de estudos deve-se à iniciativa de Ernesto do Canto (1831-1900), possivelmente inspirado na edição dos Portugaliae Monumenta Historica. Para além do próprio Ernesto do Canto, outros nomes ilustres da cultura açoriana aí colaboraram, como Jacinto Inácio de Brito Rebelo (1830-1920), o Pe. José Joaquim de Sena Freitas (1840-1913), José de Arriaga (1848-1921), Francisco Afonso de Chaves (1857-1926) e Manuel Monteiro Velho Arruda (1873-1950). Ainda em vida de Ernesto do Canto foram publicados 12 volumes, entre 1878 e 1892; após a sua morte, foram editados os volumes xiii (1920), projectado inicialmente como uma homenagem ao fundador do Arquivo dos Açores, e o xiv (1927), ambos contendo sobretudo documentação referente a S. Miguel, e o volume xv (1959), dedicado a Santa Maria e originalmente concebido por Manuel Monteiro Velho Arruda, que pensava publicar aí uma parte importante da documentação recolhida durante muitos anos de investigação. Não é fácil dar conta da diversidade de documentos e estudos reunidos no Arquivo dos Açores, tanto mais que a sua publicação não obedeceu aos critérios de organização que hoje se praticam. De qualquer modo, é de referir que o notável esforço da equipa coordenada por Ernesto do Canto permitiu publicar fontes manuscritas inéditas existentes em arquivos nacionais ? fossem os da região (particulares e públicos) ou do Continente (na sua maioria do Instituto de Arquivos Nacionais/Torre do Tombo) ? e estrangeiros, bem como impressos raros. De entre a variada e rica documentação compulsada, merecem ser referidos os regimentos e cartas de sesmaria provenientes do espólio documental de Pêro Anes do Canto, primeiro provedor das armadas, agrupados sob o título Regimen Primitivo da Propriedade nos Açores (XII, 385-408); dos impressos, são de destacar os dois opúsculos de Gonçalo Vaz Coutinho, governador de S. Miguel, relativos ao combate com os Ingleses em 1597 naquela ilha (X, 97-149), e, também para o período filipino, as várias relações espanholas e italianas sobre a conquista da ilha Terceira e as batalhas entre os partidários de D. António e os de Filipe II (III, 118-28 e 213-78); quanto aos estudos, citemos Os Corte-Reaes. Memoria Historica, da autoria de Ernesto do Canto (IV, 385-590), solidamente documentado e que nos fornece informação essencial sobre aspectos socioeconómicos da vida desta família no Algarve. Sublinhemos ainda que Ernesto do Canto e os colaboradores do Arquivo dos Açores, enquanto homens do seu tempo, estavam atentos a acontecimentos e efemérides de importância nacional. Desse modo, não deixaram passar em claro o centenário de Camões, em 1880 (II, 79-84), que mereceu a elaboração de uma Bibliographia Camoneana nos Açores por occasião e posterior ao Centenario, com vários aditamentos (III, 141-66, 301-18 e 461-76; IV, 333-42; V, 377-95), ou a viagem de Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens, este natural de S. Miguel (VIII, 193-280). Por fim, é de realçar o empenho colocado na divulgação de autores nucleares da historiografia açoriana, como Gaspar Frutuoso, publicando documentos relativos ao vigário micaelense e recorrendo às Saudades da Terra (I, 403-34, 458-66 e 536-41; II, 85-93, 172-86 e 188-90; X, 486-90; XII, 122-57), e Fr. Diogo das Chagas, o autor do Espelho Cristalino em Jardim de Várias Flores, de quem reeditam uma Relação alusiva à Restauração nos Açores (V, 396-406; X, 193-232). Pela sua comprovada importância, a Universidade dos Açores, na sequência do centenário da publicação do Arquivo dos Açores, efectuou uma edição fac-similada da obra. José Damião Rodrigues (Mai.1996)

Bibl. Arquivo dos Açores (1980-84). Reprodução fac-similada da ed. original, Ponta Delgada, Universidade dos Açores, 15 vols. Pereira, A. S. (1986), Historiografia Açoriana (1875-1925). Ponta Delgada, Universidade dos Açores, policopiado.