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forte do Espírito Santo

Foi levantado entre 1580 e 1583, por mando de Ciprião de Figueiredo e conforme o plano de defesa da ilha de Tommaso *Benedetto, para defesa da baía da Praia (da Vitória). Cruzava fogos com os fortes de Nossa Senhora da Conceição e de Santa Cruz ou do Porto, que lhe ficavam à direita. Era o último forte a Norte na baía, implantado no local onde hoje nasce o molhe de protecção e acostagens dos navios de reabastecimento ao destacamento militar dos Estados Unidos na Base Aérea N.º 4, nas Lajes.

Ocupando uma plataforma com a área de cerca de 500 m2, dispunha de cinco canhoneiras, paiol e casa da guarda. A servidão fazia-se pelo areal.

Em 11 de Agosto de 1829, para o lado Norte da baía da Praia incidiu o maior poder atacante da armada de D. Miguel, com o intuito de aí efectuar o desembarque das tropas que vinham reduzir a Terceira à obediência ao rei absolutista.

O forte do Espírito Santo encontrava-se guarnecido com uma pequena força, composta por oito artilheiros e quatro infantes, comandada pelo alferes Manoel Franco. Dispunha, apenas, de duas peças de artilharia.

A localização do forte foi fatal para a sua defesa. Submetida a intenso fogo, rapidamente a posição se tornou insustentável devido aos estilhaços provocados pelo impacto das balas contra a rocha a que encostava, forçando ao seu abandono. E quando o desembarque, dirigido para o areal situado entre o forte do Porto e o forte do Espírito Santo (sensivelmente no local onde, ainda em finais do século XVIII, existia o forte de Nossa Senhora da Conceição), é contrariado por um pequeno destacamento militar liberalista aí postado, é à esquerda e à sombra dos muralhas deste último forte que os assaltantes tomam terra.

Ocupada a plataforma do forte por cerca de quatro centenas de combatentes, logo estes procuram escalar a abrupta escarpa para tomar posição mais conveniente no alto da serra de São Tiago e ocupar o posto semafórico aí instalado. Infeliz intento: no cimo da rocha já os esperam os soldados constitucionais que os massacram ou repelem impiedosamente. Em pouco tempo toda a escarpa e a plataforma do forte estão pejadas de cadáveres, e os assaltantes que ainda restam vivos clamam misericórdia e entregam-se vencidos.

A construção do molhe de protecção e acostagem, no final de década de cinquenta, início dos anos sessenta do último século, na baía da Praia, pelas forças militares norte-americanas estacionadas na base aérea das Lajes, veio chamar a atenção para a necessidade de preservar as ruínas do forte do Espírito Santo, situadas precisamente no local onde aquele molhe deveria nascer. Um compromisso de reconstrução da velha fortaleza terá permitido o seu desmantelamento para permitir os trabalhos da construção do molhe. Compromisso esquecido, os materiais que deveriam ser repostos vieram a servir, em finais da mesma década, para obras de protecção das arribas do fundo da baía, batidas pelas ondas, em dias de maresia.

Apenas sobra um pequeno pano de muralha. Manuel Faria

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