Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Correia, Margarida Vitória Borges de Sousa Jácome

[N. Ponta Delgada, 31.3.1919 ? m. Lisboa, 21.7.1996] Era filha de Aires Jácome Correia, marquês de Jácome Correia, e de Dona Joana Chaves Cymbron Borges de Sousa. Senhora de grande beleza, de enorme vitalidade, e de uma considerável fortuna familiar, relacionou-se com personalidades importantes do meio cultural português, designadamente os escritores Armando Côrtes-Rodrigues, com quem foi casada, Domingos Monteiro, Hernâni Cidade, Natália Correia e Vitorino Nemésio, tendo desempenhado ao mesmo tempo um papel de relevo na sociedade elegante portuguesa da sua época. Como empresária, foi fundadora de uma empresa de agro-pecuária pioneira na ilha de S. Miguel, a ?Viçor?, que se dedicava ao arroteio de terras, à criação de vitelos e à produção de rações e de forragens para gado, e que acabaria por falir. A sua vida afectiva, de uma grande riqueza humana, foi recheada de acidentes por vezes dramáticos, por vezes pitorescos, frequentemente escandalosos para os padrões portugueses e sobretudo insulares da época, mas sempre fulgurantes: casou ainda muito jovem, contra a vontade paterna, com Albano de Oliveira Azevedo, filho de banqueiro e gerente de uma loja de ferragens em Ponta Delgada, ainda seu parente pelo lado materno, de quem se divorciou ao fim de dez anos ; após o divórcio, a família forçou o seu internamento na clínica psiquiátrica de Prangins, perto de Génève, onde Margarida Vitória conheceu um galã egípcio, Aly Abdel Fatha El Lozy, de Damieth, com quem viria a casar e de quem teve dois filhos, acabando este casamento igualmente em divórcio ; mais tarde, casou-se com Armando Côrtes-Rodrigues, poeta do Orpheu e como ela natural de S. Miguel, de quem também se divorciaria. Durante o período em que viveu no Cairo, Margarida Vitória relacionou-se com o pintor libanês Edmond Soussa, então retratista oficial das princesas do Egipto, com o qual esteve para casar, mais tarde, em Paris, e que a retratou em trajos regionais micaelenses, tocando viola da terra. Foi através de Côrtes-Rodrigues, logo após o casamento com ele, que Margarida Vitória conheceu Vitorino Nemésio, que por ela se apaixonou, vivendo os dois uma relação amorosa de enorme intensidade que durou até à morte de Nemésio em 20 de Fevereiro de 1978, e que este foi registando nos poemas que viria a reunir no livro Caderno de Caligraphia, escritos entre Março de 1973 e Maio de 1977, onde Margarida Vitória é a sua Marga, mas também a Macaca de Fogo, a Poldra, a Cadela, a Marquesi­nha, ou, como natural da ilha de S. Miguel, a Corisca ou a Samiguela; no auge desta extraordinária história de amor, Nemésio chegou a criar, materializando-as em cartões de visita impressos, uma «Sociedade Ludo-Imaginária MARGANÉSIO», e uma outra, «MARGA, ilimitada», dedicada a ?pura ficção? e a ?poesia e novela?. Encontram-se ecos desta relação na obra em que Margarida Vitória registou as suas memórias de vida ? o polémico Amores da cadela pura: confissões, cujo primeiro volume foi escrito com o apoio de Vitorino Nemésio ?, sobretudo no segundo volume, concluído pouco antes da morte da autora e que ainda se mantém inédito. Neste último livro encontram-se dados importantes sobre as relações afectivas de Margarida Vitória num período de decadência física e económica, tendo por fundo o conturbado ambiente político que se viveu em Portugal na sequência do 25 de Abril de 1974, sobretudo na ilha de S. Miguel com o movimento independentista a que de certo modo ? e romanticamente, tal como Nemésio ou Natália ? ela esteve ligada. Faleceu em 1996, arruinada mas sempre bela e sedutora. Luiz Fagundes Duarte (2007)

Obra (1976), Amores da cadela pura: confissões. Lisboa, Liv. Bertrand.

 

Bibl. Nemésio, V. (2002), Caderno de Caligraphia e Outros Poemas a Marga. Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda [Poesia].