[N. Ponta Delgada, 26.01.l928 ? m. ibid., 12.09.1981] Poeta. Sendo finalista do Liceu de Ponta Delgada (Curso Complementar de Letras, 1945-46), fundou, com alguns condiscípulos e companheiros de tertúlia, o Círculo Literário de Antero de Quental, no qual, em 1949, viria a proferir uma conferência que daria origem a uma breve polémica na imprensa local em torno do conceito de literatura açoriana (Literatura Açoriana, 1. Teoria). Depois, em Coimbra, onde cursou Ciências Históricas e Filosóficas em 1946-52, fundou e dirigiu com Eduíno de Jesus a publicação de uma série de obras literárias de autoria açoriana com a chancela de Colecção Arquipélago, e mais tarde, tendo-se já fixado definitivamente em Ponta Delgada, foi ainda director de uma revista de «Cultura e Arte» intitulada Açória*, de que saíram apenas dois números, em 1958 e 1959. Profissionalmente, seguiu a carreira docente, leccionando na Escola Industrial e Comercial de Ponta Delgada. Faleceu vítima de esclerose disseminada, com pouco mais de 50 anos.
Os seus primeiros passos literários foram em prosa (fragmentos de narrativas que não chegaram a sair à luz) e depois ainda escreveu alguns contos que deixou dispersos em jornais dos Açores e do Continente. Para a poesia, em que havia de realizar a parte mais vultosa da sua obra, apenas despertou nos primeiros anos de Coimbra, sob a influência, principalmente, de Miguel Torga e dos poetas do Novo Cancioneiro. Aproximou-se então, embora apenas tangencialmente, da linha neo-realista, mas poucos poemas desta fase circularam na imprensa periódica e desses poucos só um ou outro veio a ser recolhido em livro. O que havia de ser o seu verdadeiro caminho como poeta, encontrá-lo-ia no convívio com Afonso Duarte, em Coimbra. Embora não seguindo propriamente no rasto do poeta dos 7 Poema Líricos, a sua poesia tornar-se-ia então intimista - uma espécie de monólogo ao espelho, em voz baixa - e o amor (um amor mais idealizado que real), a tristeza, o tédio, o sentimento da efemeridade da vida, a solidão, a noite, o silêncio, e, em fundo, a ilha com as suas brumas e fantasmas, preencheriam definitivamente o seu universo temático. Eduíno de Jesus
Obras Principais. Os Dias Indefinidos, Coimbra, col. «Arquipélago», 1951; Capricho da Noite, id., 1953; Ave Inquieta, Coimbra, 1957; Cais Deserto, id., 1958; Acaso, Ponta Delgada, 1960; La Légende et Toi, Paris, Débresse-Poésie, 1961; A Ta Louange, id., 1962; L?Amour et Toi, id., 1963; Retrato, Ponta Delgada, 1965; Poemas Escolhidos (pref. de Rebelo de Bettencourt), Lisboa, Livraria Portugal, 1966; Romanceiro da Lagoa, Ponta Delgada, 1967. Também fez imprimir vários opúsculos com os seguintes trabalhos em prosa (ensaios e conferências): Este Aspecto do Moderno Movimento Literário nos Açores, Ponta Delgada, 1949; A Aventura dos Portugueses no Mundo, Ponta Delgada, 1969; A Gesta dos Portugueses no Oriente, Ponta Delgada, 1970; Canto da Maya, Ponta Delgada, col. «Arquipélago», 1974; A Lição dum Homem (sobre Afonso Duarte), com um preâmbulo de Ruy Galvão de Carvalho, Ponta Delgada, 1975; O Poeta e a Solidão (sobre Armando Côrtes-Rodrigues), Ponta Delgada, 1975; A Inquietude de Antero, Ponta Delgada, 1976; Teófilo Braga e o Positivismo, Ponta Delgada, 1977. Postumamente ainda vieram à luz mais dois opúsculos de versos seus: um que o poeta havia deixado pronto a publicar (Âncora, Braga, Editora Pax, 1982, com prefácio de António Manuel Couto Viana) e outro de poesias coleccionadas pela ceramista Maria José Lopes (Maceração, Braga, Editora Pax, 1985, com um In Memoriam).