Título: Só Dez por Cento é Mentira (A Desbiografia Oficial de Manoel de Barros)
Realizador: Pedro Cezar
Ano: 2008 | País: Brasil | Duração: 81 min.
Local de exibição: Sociedade Filarmónica Recreio dos Artistas
Data e hora: 24 de março | 18h00
Bilhete: 3€ público em geral | 1,5€ sócios do CCIT
Manoel de Barros, aquele que é conhecido como uma das vozes mais originais da poesia em língua portuguesa, não dava entrevistas. Tinha nada para falar. Em verdade, como ele orgulhosamente afirmava, sobre o nada tinha profundidades. Por isso em 1996 publicou o ‘Livro sobre nada’, que viria a ser uma de suas obras mais conhecidas. Em vão jornalistas de todo o Brasil e mesmo do exterior tentavam contactá-lo para gravar uma conversa. Conquanto seus poemas voassem vistosos como pássaros selvagens, ele não fazia questão nenhuma de aparecer, sequer nos meios literários, o que contribuiu para que fosse tão tardiamente descoberto e celebrado.
Com Pedro Cézar, o jornalista carioca que lhe apresentou a proposta para a realização de um documentário, não foi diferente. Declinou-a, como a todas as outras. Ele não dava entrevistas, era fato sabido. Entretanto, não era imune aos sonhos. Realizar este documentário era um grande sonho de Pedro Cézar, e quando soube disso — já o jornalista desistia de tanto insistir — o poeta dos despropósitos, o poeta que carregava água na peneira e que prezava insetos mais que aviões, acedeu.
Assim surgiu esta desbiografia autorizada, lançada no ano de 2008, trazendo uma linguagem cinematográfica irrepreensível, apresentando Manoel de Barros e sua poesia não como peças anatómicas, dissecadas, catalogadas e embebidas em formol, mas vivos, molhados de azul, com o visgo da lesma brilhando por cima, delatando seu frescor e sua natureza, convidando a plateia ao deleite e, especialmente, a ver poesia em “tudo aquilo que a nossa civilização rejeita, pisa e mija em cima”.
Manoel Wenceslau Leite de Barros poeta brasileiro, nascido em Cuiabá, Mato Grosso, em 1916. Aos 13 anos foi estudar num internato religioso no Rio de Janeiro, onde adquiriu bastante erudição. Tornou-se bacharel em Direito. Em 1949, saiu do Rio e voltou ao Pantanal para tomar conta de uma fazenda que herdou do pai. Viajou por vários lugares do mundo e chegou inclusive a viver em Nova York, Paris, Itália e Portugal. Afastado dos círculos literários só começou a ser conhecido em 1980, com 66 anos. Morreu em 13 de novembro de 2014, com quase 98 anos.
Pedro Cézar nasceu no Rio de Janeiro em 1968, é diretor e roteirista de cinema, publicidade e projetos institucionais. Produziu, dirigiu e roteirizou o filme Fábio Fabuloso, documentário de longa-metragem vencedor do Primeiro Prêmio Bravo de Cultura Prime 2005, além dos prêmios do júri popular no Festival de Cinema do Rio e na Mostra de Cinema de São Paulo, em 2004. É formado em jornalismo e foi editor da revista Fluir e colaborador dos jornais O Globo e Jornal do Brasil. Tem dois livros de poesia publicados, Puizía e Concepção de Frases em Ninhos de Água.